Brasília – Num teatro global que parece cada vez mais um pastiche trágico da Guerra Fria, Donald Trump e Vladimir Putin voltaram a protagonizar uma troca de farpas que poderia muito bem ter saído de um roteiro de má ficção distópica — se não fosse perigosamente real. Em plena escalada da guerra na Ucrânia, Trump acusou o presidente russo de estar “brincando com fogo”, numa postagem que reverberou o tom beligerante de quem, supostamente, deveria estar evitando novas catástrofes geopolíticas.
A resposta do Kremlin veio em dobro e em tom ainda mais apocalíptico. Dmitry Medvedev, ex-presidente russo e atual vice do Conselho de Segurança da Rússia, decidiu evocar nada menos que a Terceira Guerra Mundial como possibilidade real. “Só conheço uma coisa realmente ruim: a terceira guerra mundial”, disparou, como se estivesse anunciando o trailer de um filme de destruição global.
Trump solta a língua, Putin revida com mísseis
Na manhã de terça-feira (27), Trump escreveu em sua rede social preferida que, se não fosse por ele, “coisas realmente ruins” já teriam acontecido com a Rússia. Aparentemente, o narcisismo atômico do ex-apresentador de reality show ainda não tem limites.
No mesmo dia, Medvedev respondeu com uma ameaça velada: se a Rússia for empurrada ao limite, o mundo conhecerá o horror absoluto. A ameaça não é apenas retórica. No último fim de semana, a Rússia lançou os maiores ataques aéreos desde o início da guerra — 367 drones e mísseis no domingo e outros 355 na segunda-feira.
“Louco” com poder nuclear: o retorno de um velho pesadelo
Em seus delírios de grandeza, Trump havia chamado Putin de “louco” já no fim de semana anterior. Em abril, já havia mandado um recado público com um sucinto “Vladimir, pare!”. Agora, em campanha para manter-se à frente dos Estados Unidos, o bilionário republicano jura que encerraria o conflito ucraniano em “24 horas”. O problema é que, até agora, seus dotes diplomáticos só serviram para inflamar egos e reacender fantasmas nucleares.
Enquanto isso, Putin segue apostando na destruição como ferramenta de barganha, arrastando o mundo à beira do colapso militar — tudo enquanto o Ocidente engasga em sua ambiguidade estratégica.
Europa libera mísseis, Kremlin acusa o Ocidente
A tensão foi turbinada com a notícia de que países europeus autorizaram a Ucrânia a usar mísseis de longo alcance para atingir alvos dentro da Rússia. A permissão foi confirmada pelo chanceler alemão Friedrich Merz e reforça o engajamento bélico da OTAN, mesmo que indireto.
Para o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, os ataques ucranianos em solo russo com armamentos europeus equivalem à participação direta do Ocidente no conflito. Em seu habitual discurso de inversão, Peskov classificou o apoio da Europa como “escalada provocada pela OTAN”, ignorando o fato de que foi a Rússia quem invadiu a Ucrânia em 2022 — e vem bombardeando civis desde então.
Um circo perigoso com armas nucleares
O teatro geopolítico atual tem todos os elementos de um pesadelo moderno: dois ególatras trocando insultos nucleares, um continente em guerra e instituições internacionais que assistem tudo de braços cruzados ou com cálculos friamente estratégicos.
A evocação da terceira guerra mundial não é apenas retórica de propaganda. Ela escancara a irresponsabilidade de líderes que usam o apocalipse como ferramenta de marketing eleitoral ou como forma de chantagear o mundo por concessões diplomáticas.
O Carioca esclarece
Quem é Dmitry Medvedev e qual seu papel no Kremlin?
Medvedev é ex-presidente da Rússia e atual vice-presidente do Conselho de Segurança do país, um dos principais articuladores da retórica agressiva do Kremlin.
Por que Trump chamou Putin de “louco”?
O termo foi usado em meio à escalada de ataques russos na Ucrânia. A crítica pública marca um afastamento retórico entre os dois líderes que já foram mais alinhados.
Quais as consequências dessa troca de ameaças?
Aumenta a tensão nuclear, desestabiliza negociações de paz e reforça a militarização do conflito, com risco de expansão para outros territórios.
Como essa crise afeta a democracia global?
Cria um ambiente de medo e instabilidade internacional, fragiliza acordos multilaterais e dá força a discursos autoritários e nacionalistas.