Não é médico, é louco

Trump associa paracetamol ao autismo e sugere leucovorina como tratamento, sem respaldo científico

Comunidade médica e farmacêuticas contestam declarações do presidente dos EUA, que ligou analgésico a risco de autismo em grávidas

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Donald Trump - Andrea Hanks

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou polêmica nesta segunda-feira (22) ao afirmar que o uso de paracetamol (acetaminofeno) durante a gravidez estaria associado ao aumento de casos de autismo em crianças.

A declaração foi feita durante coletiva na Casa Branca e repercutiu imediatamente entre especialistas e entidades médicas.

Segundo Trump, a FDA (agência reguladora de medicamentos dos EUA) emitirá recomendações para que grávidas evitem o medicamento, exceto em casos “estritamente necessários”. O Tylenol, principal marca de paracetamol, é um dos analgésicos mais consumidos no mundo.

Especialistas contestam associação

Pesquisadores ressaltam que não há evidências científicas conclusivas que relacionem o uso de paracetamol durante a gestação ao desenvolvimento de autismo. A farmacêutica Kenvue, fabricante do Tylenol, afirmou em nota que “não há base científica” para as falas do presidente.

Estudos populacionais amplos, como uma pesquisa sueca que analisou mais de 2 milhões de pessoas, não encontraram relação significativa entre o medicamento e o risco de autismo. Especialistas lembram ainda que os sinais observados em estudos menores podem estar ligados a condições de saúde das mães, e não ao uso do paracetamol em si.

A aposta na leucovorina

Além do paracetamol, Trump mencionou a leucovorina, derivado do ácido fólico usado em alguns tratamentos contra o câncer, como possível opção terapêutica para sintomas do autismo.

A FDA aprovou recentemente uma versão do medicamento produzida pela britânica GSK, antes retirada do mercado. Um estudo citado pela agência avaliou 40 pacientes com deficiência cerebral de folato (CFD) e mostrou melhora em alguns sintomas neurológicos semelhantes aos do autismo.

A comunidade científica, porém, alerta que os dados são limitados e não comprovam eficácia da leucovorina como tratamento para autismo. Pesquisadores defendem a realização de ensaios clínicos maiores e randomizados antes de qualquer recomendação ampla.

O que a ciência sabe sobre o autismo

O autismo é um transtorno do desenvolvimento neurológico com causas majoritariamente genéticas. Pesquisadores apontam que fatores ambientais, como idade paterna avançada, parto prematuro e condições maternas (febre, diabetes, infecções) durante a gestação, podem contribuir para aumentar riscos em indivíduos com predisposição genética.

Já a hipótese de ligação entre vacinas e autismo foi amplamente descartada por estudos científicos.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.