Washington – Uma decisão de Jeff Bezos, dono do Washington Post e fundador da Amazon, de vetar o apoio editorial do jornal à candidatura de Kamala Harris provocou uma crise sem precedentes na empresa. De acordo com dados reportados pela NPR, a medida resultou em mais de 200 mil cancelamentos de assinaturas digitais. A renúncia de colunistas e integrantes do conselho editorial também foi consequência direta da decisão.
Até a manhã de segunda-feira, cerca de 8% dos assinantes digitais do jornal haviam cancelado suas assinaturas, segundo fontes internas. Marcus Brauchli, ex-editor-executivo do Post, declarou que a decisão “falta transparência”, o que gerou ainda mais descontentamento.
Impacto da Decisão e Repercussão Entre Colunistas e Leitores
A crise interna aumentou quando Will Lewis, atual diretor-executivo do Post, afirmou que o veto à candidatura de Kamala Harris buscava reforçar a imparcialidade do jornal. Contudo, o momento em que a decisão foi anunciada – poucos dias antes das eleições presidenciais nos EUA – levantou suspeitas e gerou reações dentro da redação. Marty Baron, outro ex-editor-executivo, compartilhou essa visão, ressaltando que a decisão seria mais aceitável se tivesse ocorrido antes.
Bezos tentou esclarecer a situação em uma coluna no próprio Washington Post, onde afirmou que a escolha de momento foi resultado de um “planejamento inadequado”. Ele enfatizou que o objetivo era evitar qualquer percepção de viés político no jornal.
Renúncias e Protestos Internos
A decisão gerou uma onda de protestos entre os profissionais do Post. Colunistas como Molly Roberts anunciaram sua saída, declarando que o silêncio editorial coloca o jornal mais vulnerável à influência política. Roberts afirmou em sua nota de despedida: “Quanto mais silenciosos ficamos, mais perto ele [Trump] chega.”
Outro jornalista do Post, David Hoffman, vencedor do Prêmio Pulitzer, também renunciou ao conselho editorial. Em sua saída, Hoffman descreveu os editoriais do Post como “um farol de esperança” e expressou temor pela democracia sob a candidatura de Trump. “Acredito que perdemos nossa voz”, escreveu ele.
Suspeitas de Influência Comercial e Resposta de Bezos
A situação ganhou contornos ainda mais complexos quando foi revelado um encontro entre executivos da Blue Origin – empresa aeroespacial de Bezos – e Donald Trump logo após o anúncio da decisão editorial. A Blue Origin possui contratos com a NASA, e a Amazon já havia processado o governo Trump, acusando-o de bloquear contratos do Pentágono como retaliação pela cobertura do Washington Post.
Bezos respondeu diretamente às especulações, negando qualquer interferência de seus negócios com a decisão editorial. Ele declarou que “não estava ciente” do encontro entre a Blue Origin e Trump, reiterando seu compromisso com os princípios que orientam sua gestão do Washington Post desde 2013.
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Perguntas Frequentes sobre a Crise no Washington Post
Por que Jeff Bezos vetou o apoio editorial à candidatura de Kamala Harris?
Bezos argumentou que a decisão foi tomada para manter a imparcialidade do jornal, mas alguns funcionários questionaram o momento escolhido.
Quantos assinantes o Washington Post perdeu?
Até a manhã de segunda-feira, mais de 200 mil assinantes cancelaram, representando cerca de 8% da base digital.
Colunistas renunciaram em protesto?
Sim, colunistas e membros do conselho editorial renunciaram, incluindo Molly Roberts e David Hoffman, que expressaram preocupação com a imparcialidade do jornal.
A decisão teve relação com outros interesses de Bezos?
Bezos negou qualquer conexão entre a decisão editorial e seus outros negócios, incluindo a Blue Origin, que possui contratos com o governo.