Atravessar a rua, gravar um vídeo e ouvir a violência
A cantora Pocah, ex-BBB e figura central da música pop brasileira, caminhava na quarta-feira (26) quando ouviu um “baranga” vindo de dentro de uma viatura da Polícia Civil.
O insulto, registrado em vídeo e publicado no Instagram, desmonta qualquer narrativa de “caso isolado”: revela, em tempo real, a naturalização da misoginia dentro de estruturas estatais que deveriam servir à democracia — não ao machismo impune.
A artista vira o rosto, identifica o agente e solta a pergunta que resume o absurdo: “Como explicar o Brasil?”.
A misoginia atravessa instituições
Logo depois, Pocah explica que o ataque ocorreu porque ela “demorou para atravessar a rua” ao entrar em um carro de aplicativo. Um detalhe corriqueiro, transformado em justificativa para agressão verbal por alguém investido de autoridade estatal. A cantora reage com a lucidez amarga de quem reconhece o padrão:
Mais Notícias
“É muito triste ver quem era para proteger, atacar gratuitamente uma mulher que não fez absolutamente nada. Que vergonha!”
No vídeo, ela afirma ter dado “risada de nervoso” — a reação típica de quem se vê violentada e, ao mesmo tempo, exposta ao poder armado que a hostiliza.
A resposta oficial: burocracia diante do óbvio
Procurada, a Polícia Civil informou que a Corregedoria-Geral abriu investigação para identificar o servidor. O rito é protocolar, mas o episódio expõe algo maior: a urgência de enfrentar a cultura de violência política e de gênero que persiste mesmo após anos de denúncias contra práticas autoritárias, herdadas e estimuladas por ciclos de poder que flertam com o bolsonarismo.

O caso é individual — a estrutura, não
O ataque a Pocah ecoa agressões já vividas por outras mulheres, especialmente as que enfrentam misoginia amplificada por redes sociais e por parcelas reacionárias do aparato estatal. Não se trata de moralismo: trata-se de democracia. Instituições contaminadas por violência simbólica produzem insegurança, corroem direitos e sustentam a lógica autoritária que tenta se infiltrar sob uniformes e brasões.




