18 de junho de 2025 – Brasília (DF) — A Polícia Federal (PF) revelou que a chamada Abin paralela, organização de espionagem ilegal montada dentro da Agência Brasileira de Inteligência, cometeu um erro grotesco: espionou um civil chamado Alexandre de Moraes Soares, acreditando se tratar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O relatório da investigação, tornado público nesta quarta-feira (18), expõe o funcionamento caótico e criminoso da estrutura que atuava sem qualquer autorização judicial, monitorando autoridades, opositores e cidadãos comuns.
Confusão criminosa: espionaram o Alexandre errado
De acordo com a PF, o sistema de monitoramento clandestino realizou buscas e quebras ilegais de sigilo contra Alexandre de Moraes Soares, gerente-geral de uma empresa de varejo em São Paulo, que não tem qualquer relação com o Judiciário ou com a política nacional, além do nome coincidente com o ministro.
O relatório confirma que pelo menos três consultas ilegais foram realizadas sobre o civil em maio de 2019, sem qualquer justificativa técnica ou legal. O erro evidencia não só a ilegalidade, mas também o amadorismo da rede de espionagem bolsonarista.
Operação comandada pelo bolsonarismo
As buscas teriam sido feitas por Thiago Gomes Quinalia, então agente da Abin, que acabou exonerado em 2023 por abandono de cargo. Ele integrava um núcleo interno da agência, conhecido como “Núcleo-evento portaria 157”, cuja missão era produzir dossiês falsos e tentar vincular autoridades ao PCC e outras organizações criminosas, segundo a apuração da Polícia Federal.
O esquema utilizava o software First Mile, capaz de rastrear celulares sem qualquer autorização judicial e sem o conhecimento das operadoras — uma prática flagrantemente ilegal e inconstitucional.
Ramagem, Carlos Bolsonaro e Jair Bolsonaro no centro da trama
A investigação da PF aponta como líder da organização o ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, homem de confiança da família Bolsonaro.
O vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL), aparece como idealizador da estrutura criminosa, enquanto seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é apontado como beneficiário direto da rede de espionagem ilegal, segundo consta no relatório da PF.
A decisão de tornar o inquérito público foi do próprio ministro Alexandre de Moraes, após a tentativa de vazamento seletivo de trechos do processo, num claro movimento para distorcer os fatos e manipular a opinião pública.
Estado paralelo, crime institucionalizado
O escândalo da Abin paralela escancara o uso de estruturas do próprio Estado brasileiro para perseguição política, espionagem ilegal e fabricação de dossiês contra adversários. Tudo isso sob a lógica do autoritarismo, da destruição das instituições e da prática sistemática de violação de direitos.
O episódio grotesco de espionarem o Alexandre errado simboliza não apenas o grau de desespero e incompetência da organização, mas também a completa corrosão institucional promovida durante o governo Bolsonaro.
O Diário Carioca segue acompanhando todos os desdobramentos desse caso, que expõe uma das maiores tentativas de instalação de um Estado policial paralelo na história recente do Brasil.
O Carioca Esclarece:
A prática de espionagem sem autorização judicial é crime grave no Brasil, violando princípios constitucionais como o direito à privacidade, ao devido processo legal e às garantias fundamentais. O uso do software First Mile, operado clandestinamente pela Abin paralela, configura crime de interceptação ilegal e formação de organização criminosa.
Entenda o Caso
O que é a Abin paralela?
É uma rede clandestina de espionagem montada durante o governo Bolsonaro dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que operava sem autorização judicial, monitorando autoridades, opositores e cidadãos.
Quem foi espionado por engano?
Um gerente de varejo chamado Alexandre de Moraes Soares, que foi confundido com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, alvo principal da rede bolsonarista.
Quem são os principais responsáveis pela Abin paralela?
De acordo com a Polícia Federal, o esquema foi liderado por Alexandre Ramagem, com participação direta de Carlos Bolsonaro (PL) como idealizador e de Jair Bolsonaro (PL) como beneficiário da estrutura criminosa.