O bolsonarismo, que durante quase uma década reinou nas redes sociais com fake news e narrativas virais, chega fragilizado ao maior julgamento de sua história.
Às vésperas do processo no Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para 2 de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sofre uma queda brutal de engajamento digital, deixando claro que o outrora “exército online” da extrema-direita perdeu o fôlego.
Rede esvaziada e defesa desorganizada
Decisões recentes do ministro Alexandre de Moraes contra Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o pastor Silas Malafaia aprofundaram o isolamento do grupo. O resultado é um movimento sem a mesma capacidade de reação que impulsionou sua ascensão política.
Um aliado próximo, ouvido pela coluna de Lauro Jardim em O Globo, resumiu:
“O Bolsonaro perdeu as redes e perdeu a mídia. Falta também uma comunicação profissional ao lado da defesa técnica dele.”
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A dependência do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) para gerir as redes sempre foi um ponto vulnerável — e agora cobra o preço.
Consultores e aliados apontam o vácuo
O especialista Manoel Fernandes, da consultoria Bites, reforça o diagnóstico:
“O bolsonarismo sempre atuou num campo monotemático. Eles elegem um tema e vão para cima. Sem a presença digital do Bolsonaro, ficam em busca de um novo líder para dar ordem.”
Enquanto isso, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, apelou ao surreal: declarou que a “única saída” para evitar a condenação de Bolsonaro seria Donald Trump.
“Isso é uma guerra, e eu não acho que o Trump vai perder essa guerra”, disse Valdemar em evento do Esfera Brasil, em São Paulo. A declaração reforça o grau de desespero do bolsonarismo, que aposta em interferência externa para salvar seu chefe político.
Trump como tábua de salvação
A conexão entre Bolsonaro e Trump já rendeu dividendos retóricos. Em julho, o presidente norte-americano criticou o processo brasileiro, chamando-o de “caça às bruxas” ao mesmo tempo em que anunciou tarifa de 50% sobre produtos do Brasil. O PL tenta explorar essa retórica como escudo, mas analistas avaliam que a aposta apenas reforça o isolamento de Bolsonaro em território nacional.
Apoio popular derrete
Pesquisa Genial/Quaest confirma a erosão:
- 55% consideram justa a prisão domiciliar de Bolsonaro.
- 52% acreditam que ele participou do plano golpista.
- Entre os eleitores “nem-nem”, 58% veem envolvimento direto e 60% apoiam sua prisão.
A percepção de culpa cresce ano a ano, tornando o julgamento ainda mais explosivo para o ex-presidente e seus aliados.
STF prepara cinco sessões decisivas
O julgamento acontecerá entre 2 e 12 de setembro na Primeira Turma do STF. O relator Alexandre de Moraes deve dedicar cerca de três horas ao voto, analisando as teses da defesa e propondo penas. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, admitiu que o processo traz “algum grau de tensão para o país”.
Para o bolsonarismo, que sempre usou as redes como trincheira, o silêncio das ruas e da internet pode ser o sinal mais evidente: a era do caos digital pode estar chegando ao fim.
As informações são da coluna de Lauro Jardim, no jornal O Globo




