A operação da Polícia Federal contra Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, revelou que o apoio a ele entre líderes evangélicos não é unânime, apesar das declarações do pastor.
Enquanto Malafaia afirma que a investigação fortaleceu sua influência, políticos e religiosos descrevem resistência interna e posicionamentos discretos. Edir Macedo, da Igreja Universal, e Valdemiro Santiago, da Mundial do Poder de Deus, mantêm silêncio estratégico. Uma carta de apoio de 25 líderes, incluindo Teófilo Hayashi e Felippe Valadão, circulou no dia 17 de agosto, mas outras lideranças de expressão, como Claudio Duarte, Estevam Hernandes e Abner Ferreira, assinaram nota de repúdio sem manifestações públicas.
Apoios divididos e pressão velada
Fontes da bancada evangélica relatam que parte do respaldo foi motivada por receio de represálias de Malafaia. Um deputado, em reserva, classificou-o como “leão sem dente”, sugerindo que o pastor teria provocado a operação para se vitimizar politicamente. Otoni de Paula (MDB-RJ) afirmou que alguns líderes reagiram apenas por temor da postura agressiva de Malafaia.
Parlamentares bolsonaristas, como Nikolas Ferreira (PL-MG), Eli Borges (PL-TO) e Gilberto Nascimento (PSD-SP), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, saíram em defesa do pastor. Para Borges, Malafaia seria “uma voz da democracia brasileira” injustiçada. Já Damares Alves (Republicanos-DF) permanece em silêncio.
Áudios e narrativa de perseguição contestada
Áudios obtidos pela PF mostram Malafaia se referindo a Eduardo Bolsonaro como “babaca”, considerado linguagem imprópria para líder religioso. Otoni de Paula rebate a narrativa de perseguição, ressaltando que a investigação apura pressão política contra o Supremo Tribunal Federal, e não fé religiosa.
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O Observatório Evangélico aponta que Malafaia nunca teve representatividade plena entre as Assembleias de Deus. Vinicius do Valle, diretor do órgão, afirma: “Ele tenta ser um representante dos evangélicos brasileiros, gosta de ser tratado assim, mas ele não é reconhecido dessa forma por outros líderes”.
Conexões políticas e medidas da PF
Segundo a Polícia Federal, Malafaia atuou em conjunto com Jair Bolsonaro para pressionar o STF, sugerindo o uso da promessa de suspensão do tarifaço dos EUA como moeda de troca para anistia ampla. Por decisão do ministro Alexandre de Moraes, o passaporte do pastor foi apreendido; ele está proibido de deixar o país e manter contato com outros investigados.
A operação expõe não apenas a articulação política de Malafaia, mas também os limites de sua influência no meio evangélico. A suposta unidade em torno do pastor revela-se frágil, marcada por silêncio estratégico e apoio condicionado, mostrando fissuras internas profundas no segmento.
Com informações de O Globo e DCM