Vemos "O futuro repetir o passado"

Câmara já chegou a blindar alta corrupção e até grupo de extermínio com motosserra

Entre 1988 e 2001, Congresso barrou 253 processos contra parlamentares; PEC da Blindagem quer retomar era da impunidade.

JR Vital
por
JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Hildebrando Pascoal / Crédito: Divulgação

Câmara dos Deputados acaba de aprovar a PEC da Blindagem que retoma um dos capítulos mais sombrios da história política brasileira: a era em que o Congresso protegeu criminosos condenados por formação de grupo de extermíniohomicídiocorrupção e até receptação de veículos roubados. Entre 1988 e 2001, deputados e senadores barraram 253 pedidos de abertura de processos enviados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) — autorizando apenas uma ação penal em 13 anos.

Os casos revelam um padrão de impunidade sistêmica que agora ameaça retornar. Parlamentares acusados de mandar motosserras contra adversários, comandar milícias e desviar milhões foram protegidos pela mesma regra que a PEC da Blindagem quer restabelecer: a necessidade de autorização prévia do Congresso para processar criminosos de colarinho branco.

O então deputado Jabes Rabelo — Foto: Reprodução/Acervo Câmara dos Deputados
O então deputado Jabes Rabelo — Foto: Reprodução/Acervo Câmara dos Deputados

Os casos que chocaram o país — e foram abafados

Dentre os 253 processos travados, destacam-se crimes de extrema gravidade que jamais foram julgados graças à blindagem congressual:

  • Hildebrando Pascoal (AC): Acusado de comandar um grupo de extermínio que utilizava motosserras para executar vítimas no Acre. Dois pedidos do STF foram arquivados pela Câmara. Anos depois, foi condenado a mais de 100 anos de prisão — já fora do cargo.
  • Nobel Moura (RO): Investigado por tentativa de homicídio contra um caminhoneiro e posteriormente condenado como mandante do assassinato do radialista Marinaldo de Souza. A Câmara rejeitou o parecer que permitiria seu processamento.
  • Valdemar Costa Neto (PL): Atual presidente do PL e chefe da oposição bolsonarista, teve três processos travados pela Câmara durante seu mandato. Hoje, ameaça “parar o Senado” para aprovar anistia a Jair Bolsonaro.

O único caso aprovado: receptação de veículo

A exceção que confirma a regra foi o caso do deputado Jabes Rabelo (RO), autorizado a ser processado em 1991 por receptação de um caminhão roubado. A Câmara aprovou a ação por 366 votos a 35 — mas meses depois cassou Rabelo por envolvimento com tráfico de drogas e falsificação de documentos.

Ou seja: mesmo no único caso em que agiu, o Congresso falhou em frear um criminoso que continuou agindo até ser cassado por crimes ainda mais graves.

Os autores da blindagem que se beneficiaram dela

Ironia histórica: o então senador Ronaldo Cunha Lima (PB)autor da PEC que acabou com a autorização prévia em 2001, havia sido beneficiado pela mesma regra anos antes. Ele teve dois pedidos de investigação por tentativa de homicídio contra o ex-governador da Paraíba barrados pelo Senado. Só foi processado após deixar o cargo.

Por que a PEC da Blindagem é um retrocesso perigoso

Os números falam por si: entre 1988 e 2001, o Congresso autorizou 0,4% dos processos encaminhados pelo STF. Isso não é “proteção parlamentar” — é proteção à criminalidade.

A proposta aprovada pela Câmara nesta semana não é uma novidade: é a volta de um mecanismo que comprovadamente serviu para abrigar corruptos, milicianos e assassinos. Se aprovada no Senado, a PEC não blindará “parlamentares”; blindará criminosos.

Com informações do G1

Seguir:
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.