O silêncio estridente ecoa nos corredores do poder. Enquanto a retórica punitivista da direita costuma mirar a base da pirâmide social, a recente intervenção no Banco Master e a prisão de seu controlador, Daniel Vorcaro, revelam um paradoxo moral no “andar de cima” da Faria Lima. A conexão entre instituições públicas estaduais e a Crise do Banco Master expõe não apenas a fragilidade do sistema financeiro, mas a cumplicidade silenciosa de governadores alinhados ao bolsonarismo.
A narrativa de austeridade fiscal colapsa quando confrontada com a gestão temerária de fundos públicos. O cidadão, frequentemente cobrado por sacrifícios, assiste agora ao desvelar de uma teia que liga decisões políticas a prejuízos bilionários. A transparência, pilar da democracia, torna-se a primeira vítima quando o capital especulativo se mistura à gestão estatal.
O Distrito Federal e a Conexão BRB
O Governador Ibaneis Rocha (MDB) encontra-se no centro de uma tempestade política e financeira. Rocha assistiu, em posição privilegiada, às negociações suspeitas entre o Banco Master e o BRB (Banco de Brasília), instituição controlada pelo Distrito Federal.
A inércia administrativa cobra seu preço. Rocha nomeou Paulo Henrique Costa para a presidência do banco estatal, um executivo que permaneceu no cargo até ser afastado por decisão judicial recente. A Polícia Federal estima que o escândalo possa atingir a cifra astronômica de R$ 12 bilhões, evidenciando uma falha sistêmica nos mecanismos de governança pública.
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O Drama do Rioprevidência
No Rio de Janeiro, a situação assume contornos dramáticos para o funcionalismo público. O Governador Cláudio Castro (PL) precisa esclarecer a exposição do Rioprevidência aos títulos podres da instituição sob intervenção. O fundo, responsável pela subsistência de milhares de aposentados e pensionistas, realizou compras massivas de papéis do Banco Master.
O Deputado Estadual Luiz Paulo (PSD) denunciou a manobra, alertando para o risco iminente de calote. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) chegou a proibir novas aquisições, uma determinação que teria sido ignorada.
O Impacto nos Cofres Públicos
| Ente Federativo/Fundo | Risco Estimado / Exposição | Responsável Político |
| Distrito Federal (BRB) | R$ 12 Bilhões (Investigação PF) | Gov. Ibaneis Rocha |
| Rio de Janeiro (Rioprevidência) | R$ 980 mi a R$ 2,6 Bilhões | Gov. Cláudio Castro |
| Fundos Municipais (Diversos) | R$ 1,7 Bilhão (Estimativa) | Gestões Locais |
A responsabilidade é direta e intransferível. O Governador Cláudio Castro detém a prerrogativa de nomear a presidência e a diretoria do Rioprevidência, tornando a gestão do fundo um reflexo de sua administração.
A Movimentação Legislativa em São Paulo
O Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) enfrenta questionamentos sobre o timing de manobras legislativas em meio à Crise do Banco Master. A atenção recai sobre o Secretário de Segurança Pública, Capitão Guilherme Derrite (Progressistas).
Derrite atuou como relator de um projeto de lei antifacção, tentando emparedar a Polícia e a Receita Federal. A ação ocorreu justamente no momento em que os órgãos de controle fechavam o cerco contra grupos criminosos operando na Faria Lima. A proposta, apelidada de “PEC da Bandidagem 2.0”, gerou protestos e forçou um recuo estratégico, mas a dúvida sobre a motivação permanece.
O Presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), também deve explicações à sociedade pela nomeação de Derrite e pela tentativa de tramitação acelerada da proposta.
O Efeito Multiplicador na Economia Real
A liquidação extrajudicial do conglomerado de Daniel Vorcaro gera ondas de choque que ultrapassam o setor bancário. O Professor Hugo Garbe, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, alerta para a exposição crítica dos fundos de previdência.
A ausência de cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para Letras Financeiras deixa os servidores vulneráveis. “Juntos, esses fundos aplicaram aproximadamente R$ 1,7 bilhão nesses títulos”, destaca Garbe. Este valor deve ser encarado como o piso do prejuízo, não o teto.
Municípios na Mira do Prejuízo
A lista de administrações que apostaram no Banco Master é extensa e preocupante. Além do estado do Rio de Janeiro, fundos municipais de Cajamar, São Roque, Aparecida de Goiânia, Araras e Santo Antônio de Posse enfrentam perdas significativas. A capital alagoana, Maceió, também pode engrossar a estatística do desastre financeiro.
Projeção de Cenário
A Crise do Banco Master não é um acidente isolado; é sintoma de um modelo de governança onde o risco é socializado e o lucro, privatizado. O silêncio dos governadores de direita, que se elegeram sob a bandeira da moralidade administrativa, soa agora como uma confissão de negligência.
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Resta à sociedade civil e às instituições de justiça a tarefa de exigir a recomposição dos cofres públicos. Sem uma responsabilização severa dos agentes políticos que permitiram essa exposição ao risco, o trabalhador brasileiro continuará sendo o fiador involuntário de aventuras financeiras irresponsáveis.




