Fuga de Ramagem ganhou novos contornos após a Câmara dos Deputados confirmar que o parlamentar Alexandre Ramagem (PL-RJ) apresentou atestados médicos para justificar licença em setembro, sem informar oficialmente que deixaria o país, mesmo após ser localizado em um condomínio de luxo em Miami, nos Estados Unidos. Condenado pelo STF a 16 anos, 1 mês e 15 dias no julgamento da trama golpista, o deputado pode ter sua prisão decretada nas próximas semanas.
🔎 Pontos-chave do caso Ramagem
- Licença médica concedida por 90 dias sem comunicação sobre viagem ao exterior.
- Câmara afirma que nenhuma missão internacional foi autorizada.
- Mesmo em Miami, deputado mantém presença parlamentar intacta.
- Publicações simulam rotina no Brasil; ausência física não é mencionada.
- Gastos da cota parlamentar caem após saída do país.
Licenças médicas, silêncio institucional e uma viagem oculta
A revelação feita pela Câmara dos Deputados aprofunda as suspeitas sobre a conduta de Alexandre Ramagem. Segundo a presidência da Casa, o deputado apresentou atestados que garantiram afastamento inicial de 30 dias em 9 de setembro, prorrogado por mais 60 dias em 13 de outubro. A categoria escolhida permite assinatura de presença e participação remota em votações, o que, na prática, mantém a atuação parlamentar ativa.
Nenhuma comunicação formal sobre viagem ao exterior foi registrada. A Câmara também confirmou que não autorizou missão oficial para o deputado — o que torna a permanência dele em Miami uma violação do dever de informar deslocamentos internacionais.
A descoberta ocorreu após reportagem do PlatôBR, assinada por Guilherme Amado, que localizou Ramagem em um condomínio de alto padrão na Flórida. A presença do parlamentar nos Estados Unidos surge em um momento crítico: o STF está prestes a concluir o trânsito em julgado das condenações do núcleo da trama golpista.
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Presença virtual intacta e vídeos que simulam normalidade
A estética da rotina parlamentar — direto de Miami
Mesmo longe do Brasil, Ramagem mantém frequência perfeita nos sistemas da Câmara. Nas redes sociais, o deputado posta vídeos de terno e gravata, comentando pautas legislativas como se estivesse em Brasília. Em nenhuma publicação há referência à ausência física ou à estadia nos Estados Unidos.
Essa estratégia cria uma camada de aparência institucional, mas reforça a crítica de que o parlamentar estaria usando a licença médica para mascarar uma fuga prévia ao momento em que sua prisão possa ser decretada pelo STF.
A situação gera desconforto político: enquanto se apresenta como ativo no Parlamento, Ramagem permanece fora do território nacional, contrariando expectativas legais e administrativas.
A cota parlamentar e o rastro deixado pelas despesas
Como os gastos revelam a movimentação de Ramagem
A licença médica permite que o deputado continue recebendo a cota parlamentar, destinada a custear atividades do mandato. Os gastos, porém, revelam mudança brusca de comportamento financeiro após sua saída do país.
- Julho: R$ 43 mil
- Agosto: R$ 36 mil
- Setembro (já nos EUA): R$ 13 mil
- Outubro: R$ 20 mil
A queda expressiva coincide com o período em que Ramagem teria deixado o Brasil — e a ausência de gastos com passagens aéreas reforça a tese de deslocamento definitivo, não uma viagem temporária.
Sem viagens semanais entre Rio e Brasília, o padrão de despesas muda radicalmente, sugerindo que o deputado ajustou sua rotina à permanência prolongada em Miami.
A crise institucional que se forma
O caso expõe uma falha grave na dinâmica de fiscalização do Parlamento: licenciamentos por motivos médicos não exigem comprovação de permanência no país, abrindo espaço para distorções como a de Ramagem. Com o STF prestes a definir sua situação e podendo decretar sua prisão, cresce a pressão para que o Congresso esclareça eventuais omissões e adote medidas mais rígidas para evitar subterfúgios semelhantes.
Enquanto isso, a conduta do deputado — marcada pelo silêncio, pela manutenção da rotina virtual e pela ausência de explicações — aprofunda a percepção pública de que a licença foi instrumentalizada para viabilizar uma fuga prévia ao cumprimento da pena.




