A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro retomou o tom agressivo e ideologicamente radical que a projetou na base bolsonarista. Durante o evento do PL Mulher, realizado neste sábado (11) em Rio Verde (GO), Michelle chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a primeira-dama Rosângela da Silva, Janja, de “casalzinho que demoniza Israel” e classificou a esquerda brasileira como “maldita” e “ordinária”.
A fala, repleta de ataques pessoais e religiosos, faz parte da série de eventos estaduais organizados pela ala feminina do Partido Liberal (PL). O discurso reforça a tentativa de Michelle de ocupar o espaço deixado por Jair Bolsonaro, hoje em prisão domiciliar e inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Discurso religioso e retórica de ódio
Em sua fala, Michelle acusou o governo Lula de “promover destruição” e criticou a política econômica da atual gestão.
“O Lula é um gastador de primeira. Mexe no prato da família, no arroz, no feijão, na proteína daqueles que mais precisam”, afirmou.
A ex-primeira-dama também comparou o petista ao ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, a quem chamou de “socialista raiz”, numa tentativa de desqualificar o estilo de vida do casal presidencial. “Lula vive no luxo às custas do contribuinte”, disse.
Além dos ataques econômicos e morais, Michelle explorou novamente o discurso religioso. Afirmou que “a direita não mata seus opositores” e associou sua fé ao atentado de 2018 contra Jair Bolsonaro.
“Muitas mentiras e escândalos ainda vão aparecer, porque a extrema-esquerda é ordinária, maltrata, persegue e difama”, declarou, sob aplausos.
Analistas políticos avaliam que a ex-primeira-dama tenta consolidar-se como porta-voz do conservadorismo evangélico, misturando religião, política e desinformação para mobilizar a base radical da direita.
Defesa de Bolsonaro e recado à Justiça
Michelle também defendeu o marido, preso desde agosto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em desdobramentos do caso das joias sauditas.
“Ele continua sendo o único líder da direita candidato à Presidência. Eleição sem Jair Bolsonaro não existe”, disse, ignorando a inelegibilidade até 2030.
O discurso, recebido com gritos de “mito”, reforça a estratégia de vitimização usada pela família Bolsonaro. Michelle afirmou que o ex-presidente “deve manter a cabeça erguida e se aproximar de Deus”, ecoando o discurso messiânico que sustenta o bolsonarismo desde 2018.
Crítica ao feminismo e contradição no PL Mulher
Mesmo presidindo um evento voltado às mulheres, Michelle criticou o feminismo, afirmando que “quem demoniza a figura masculina são as feministas”.
“Nós somos mulheres femininas que queremos trabalhar em conjunto, amamos nossos maridos e nossas famílias”, afirmou.
O tom conservador do evento destoou do objetivo de empoderamento feminino proposto oficialmente pelo PL Mulher. Apesar da temática, havia mais homens do que mulheres nas cadeiras de destaque do palco — incluindo lideranças como Ronaldo Caiado (União Brasil) e Fred Rodrigues, autor do projeto que concedeu a Michelle o título de cidadã honorária de Goiás.
Projeção eleitoral e estratégia para 2026
A presença de Michelle em eventos estaduais é vista como parte de um roteiro político que visa manter viva a influência do bolsonarismo e pavimentar um possível caminho para 2026. A ex-primeira-dama tem reforçado sua imagem entre eleitores evangélicos e conservadores, apostando na mistura de fé, ressentimento e moralismo como ferramenta eleitoral.
A tática, entretanto, preocupa analistas democráticos, que enxergam na retórica de Michelle um risco de reacendimento do discurso de ódio e da intolerância política — fenômeno que marcou o ciclo bolsonarista e levou à escalada de violência contra opositores.
Enquanto o país busca reconstruir o diálogo institucional e social, as declarações da ex-primeira-dama revelam a dificuldade da direita radical em abandonar o populismo religioso e a desinformação como instrumentos de poder.


