Jair Bolsonaro transformou o Natal em palco político ao divulgar uma carta em que compara a si próprio a Deus e apresenta Flávio Bolsonaro como herdeiro de uma missão presidencial para 2026, gesto que gerou ruído até entre aliados.
Antes de passar por uma cirurgia de hérnia, Jair Bolsonaro, ex-presidente e atualmente preso por tentativa de golpe de Estado, escreveu uma carta na qual afirma “entregar” o filho Flávio Bolsonaro para a missão de liderar o Brasil. O texto associa a decisão ao amor incondicional de um pai, em clara analogia ao sacrifício de Jesus, em pleno Natal.
A carta foi escrita em 23 de dezembro, quando Bolsonaro estava na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, e lida publicamente por Flávio em frente ao Hospital DF Star, onde o ex-presidente estava internado.
A sucessão familiar como projeto político
No conteúdo, Bolsonaro afirma que indicar o filho como pré-candidato à Presidência da República em 2026 representa a entrega “do que há de mais valioso para um pai”. O ex-presidente sustenta que a escolha é consciente, legítima e necessária para preservar o legado de sua trajetória política.
Apesar de não mencionar diretamente a cirurgia marcada para o dia seguinte, o texto faz referência a dificuldades pessoais, problemas de saúde e custos acumulados ao longo da vida pública, reforçando uma narrativa de sacrifício e redenção.
Incômodo entre aliados e bastidores
A divulgação da carta não foi bem recebida nem mesmo entre aliados próximos. Segundo a jornalista Malu Gaspar, de O Globo, interlocutores classificaram a iniciativa como precipitada e egoísta, especialmente por ocorrer durante um momento delicado de saúde do ex-presidente.
O gesto também teria causado desconforto na ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que não participou da articulação e se opôs à divulgação naquele contexto. Relatos indicam que uma entrevista ao Metrópoles, também articulada por Flávio com o mesmo objetivo político, foi cancelada após intervenção de Michelle.
Saúde, fé e controle institucional
A cirurgia para tratar uma hérnia inguinal bilateral foi autorizada pelo STF, após perícia da Polícia Federal, que também identificou crises de soluços frequentes, chegando a 30 ou 40 por minuto. O cirurgião Cláudio Birolini avaliou durante o procedimento a possibilidade de anestesia no diafragma.
A previsão de alta é de sete dias. Michelle Bolsonaro foi autorizada a acompanhar o marido, e os filhos puderam visitá-lo, enquanto outras visitas dependem de autorização do Supremo Tribunal Federal.
Carta aos Brasileiros
Ao longo da minha vida, tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto na minha saúde e minha família para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil.
Diante desse um cenário de injustiça e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar o Flávio Bolsonaro como pré-candidato à Presidência da República em 2026.
Entrego o que há de mais importante na vida de um pai: o próprio filho, para a missão de resgatar o nosso Brasil. Trata-se de uma decisão consciente, legítima e amparada no desejo de preservar a representação daqueles que confiaram em mim.
Ele é a continuidade do caminho da prosperidade que iniciei muito antes de ser presidente. Pois acredito que o Brasil precisamos retomar a responsabilidade de ser conduzir o Brasil com justiça, firmeza e lealdade aos anseios do povo brasileiro.
Que Deus o abençoe e o capacite na liderança dessa corrente de milhões de brasileiros que honram a Deus, a pátria, a família e a liberdade.
Brasília, 25 de dezembro de 2025.
Jair Messias Bolsonaro