Inimigos do Povo

Sóstenes desmente Tarcísio e expõe aliança contra MP para proteger super-ricos

Declarações revelam bastidores da derrota do governo e o alinhamento entre Tarcísio e o PL em defesa dos mais ricos, contra medida que ampliava justiça fiscal.

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Sóstenes Cavalcante

A derrubada da MP do IOF, que previa a tributação sobre lucros, investimentos e ganhos de super-ricos, revelou uma aliança de bastidores entre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Após a votação que retirou a proposta de pauta por 251 votos a 193, Sóstenes agradeceu publicamente a Tarcísio pela “atuação contra o aumento de impostos”, enquanto o governador negava envolvimento. O discurso, no entanto, desmentiu a versão de Tarcísio e escancarou a convergência entre a extrema direita e o centrão em defesa dos privilegiados do topo da pirâmide social.


MP do IOF: quem perdeu foi o povo

A Medida Provisória 1.303, enviada pelo governo Lula, buscava corrigir distorções tributárias históricas ao aumentar a taxação sobre ganhos financeiros de alta renda, fintechs e apostas online — setores que concentram grande volume de lucros sem contrapartida social.

Entre os pontos da proposta estavam:

  • Elevação do Imposto de Renda sobre aplicações financeiras de 15% para 18%;
  • Revisão da CSLL de 9% para 15% para fintechs e instituições de investimento;
  • Tributação sobre apostas e criptomoedas, hoje amplamente subdeclaradas;
  • Regras para combater a evasão e a elisão fiscal de grandes fortunas.

O governo previa arrecadar R$ 31,4 bilhões entre 2025 e 2026, recursos destinados a saúde, educação e combate à fome. Com a rejeição, os mais ricos seguem isentos de parte dos tributos que recaem de forma desigual sobre a classe média e os trabalhadores.


Sóstenes agradece Tarcísio e admite articulação

Durante o discurso da vitória, Sóstenes Cavalcante exaltou a atuação de Tarcísio:

“Quero agradecer alguns governadores que trabalharam muito esta noite. Governador Tarcísio, do Estado de São Paulo, receba o nosso reconhecimento e gratidão por todo o seu empenho”, disse o líder do PL.

Horas depois, Tarcísio tentou negar participação nas negociações, afirmando estar “focado em São Paulo”. Mas o gesto de Sóstenes expôs o papel político do governador nas movimentações contra o projeto.

“Estou focado em SP. Acho que ele pode ter falado por deferência. O tema de aumento de tributo não tem aderência no Congresso”, respondeu Tarcísio — declaração que, na prática, confirma sua concordância com a decisão de proteger os grandes patrimônios.


Direita e centrão unidos contra a justiça fiscal

A derrubada da MP foi celebrada por parlamentares do PL, Republicanos e União Brasil, que transformaram o debate sobre justiça tributária em bandeira eleitoral contra o governo. A oposição vendeu o projeto como “aumento de impostos”, embora ele atingisse apenas altos rendimentos financeiros, não o consumo popular.

“O que vimos foi o Congresso votando para preservar o privilégio dos que mais lucram, enquanto o povo paga a conta”, resumiu um economista ligado ao Instituto Justiça Fiscal.

O episódio marcou uma vitória da elite financeira e uma derrota política para Lula e Fernando Haddad, que apostavam na medida para reduzir a desigualdade e fortalecer as contas públicas.

Com o recuo, o governo perde R$ 31 bilhões em arrecadação, abrindo um rombo de até R$ 35 bilhões no Orçamento de 2026 e ameaçando programas sociais essenciais.


Tarcísio e o PL: discurso de austeridade, prática de privilégio

O discurso “técnico” de Tarcísio de Freitas, centrado em austeridade e eficiência, contrasta com sua defesa indireta dos grandes patrimônios e com o boicote à redistribuição fiscal. A aliança com Sóstenes Cavalcante e outros expoentes do bolsonarismo parlamentar reforça a tentativa de consolidar um bloco de oposição ao governo Lula com discurso econômico liberal e agenda voltada aos mais ricos.

Nos bastidores, aliados de Tarcísio veem o episódio como um ensaio de sua candidatura presidencial em 2026 — pavimentada à custa da renúncia fiscal e da manutenção dos privilégios.

“Enquanto o povo paga imposto até no feijão, eles lutam para proteger os lucros dos fundos e das apostas online”, ironizou um deputado da base governista.


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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.