A derrubada da MP do IOF, que previa a tributação sobre lucros, investimentos e ganhos de super-ricos, revelou uma aliança de bastidores entre o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Após a votação que retirou a proposta de pauta por 251 votos a 193, Sóstenes agradeceu publicamente a Tarcísio pela “atuação contra o aumento de impostos”, enquanto o governador negava envolvimento. O discurso, no entanto, desmentiu a versão de Tarcísio e escancarou a convergência entre a extrema direita e o centrão em defesa dos privilegiados do topo da pirâmide social.
MP do IOF: quem perdeu foi o povo
A Medida Provisória 1.303, enviada pelo governo Lula, buscava corrigir distorções tributárias históricas ao aumentar a taxação sobre ganhos financeiros de alta renda, fintechs e apostas online — setores que concentram grande volume de lucros sem contrapartida social.
Entre os pontos da proposta estavam:
- Elevação do Imposto de Renda sobre aplicações financeiras de 15% para 18%;
 - Revisão da CSLL de 9% para 15% para fintechs e instituições de investimento;
 - Tributação sobre apostas e criptomoedas, hoje amplamente subdeclaradas;
 - Regras para combater a evasão e a elisão fiscal de grandes fortunas.
 
O governo previa arrecadar R$ 31,4 bilhões entre 2025 e 2026, recursos destinados a saúde, educação e combate à fome. Com a rejeição, os mais ricos seguem isentos de parte dos tributos que recaem de forma desigual sobre a classe média e os trabalhadores.
Sóstenes agradece Tarcísio e admite articulação
Durante o discurso da vitória, Sóstenes Cavalcante exaltou a atuação de Tarcísio:
“Quero agradecer alguns governadores que trabalharam muito esta noite. Governador Tarcísio, do Estado de São Paulo, receba o nosso reconhecimento e gratidão por todo o seu empenho”, disse o líder do PL.
Horas depois, Tarcísio tentou negar participação nas negociações, afirmando estar “focado em São Paulo”. Mas o gesto de Sóstenes expôs o papel político do governador nas movimentações contra o projeto.
“Estou focado em SP. Acho que ele pode ter falado por deferência. O tema de aumento de tributo não tem aderência no Congresso”, respondeu Tarcísio — declaração que, na prática, confirma sua concordância com a decisão de proteger os grandes patrimônios.
Direita e centrão unidos contra a justiça fiscal
A derrubada da MP foi celebrada por parlamentares do PL, Republicanos e União Brasil, que transformaram o debate sobre justiça tributária em bandeira eleitoral contra o governo. A oposição vendeu o projeto como “aumento de impostos”, embora ele atingisse apenas altos rendimentos financeiros, não o consumo popular.
“O que vimos foi o Congresso votando para preservar o privilégio dos que mais lucram, enquanto o povo paga a conta”, resumiu um economista ligado ao Instituto Justiça Fiscal.
O episódio marcou uma vitória da elite financeira e uma derrota política para Lula e Fernando Haddad, que apostavam na medida para reduzir a desigualdade e fortalecer as contas públicas.
Com o recuo, o governo perde R$ 31 bilhões em arrecadação, abrindo um rombo de até R$ 35 bilhões no Orçamento de 2026 e ameaçando programas sociais essenciais.
Tarcísio e o PL: discurso de austeridade, prática de privilégio
O discurso “técnico” de Tarcísio de Freitas, centrado em austeridade e eficiência, contrasta com sua defesa indireta dos grandes patrimônios e com o boicote à redistribuição fiscal. A aliança com Sóstenes Cavalcante e outros expoentes do bolsonarismo parlamentar reforça a tentativa de consolidar um bloco de oposição ao governo Lula com discurso econômico liberal e agenda voltada aos mais ricos.
Nos bastidores, aliados de Tarcísio veem o episódio como um ensaio de sua candidatura presidencial em 2026 — pavimentada à custa da renúncia fiscal e da manutenção dos privilégios.
“Enquanto o povo paga imposto até no feijão, eles lutam para proteger os lucros dos fundos e das apostas online”, ironizou um deputado da base governista.

			
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
		
                               
                             
		
		
		
		
		
		
		
		