Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participação no núcleo central da trama golpista, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) afirmou, em uma entrevista transmitida ao vivo, que está “seguro” nos Estados Unidos e que conta com a “anuência” do governo norte-americano para permanecer no país — mesmo com um mandado de prisão preventiva expedido pelo ministro Alexandre de Moraes.
A declaração foi dada ao blogueiro Allan dos Santos, também foragido da Justiça brasileira. Ramagem, condenado a 16 anos, 1 mês e 15 dias de prisão, disse ter sido recebido com simpatia por autoridades norte-americanas. Segundo ele, teria ouvido:
“Que bom que temos um amigo que está em segurança, a salvo, aqui nos Estados Unidos.”
A fala, porém, não é acompanhada de nenhuma confirmação oficial. A CNN Brasil afirma ter procurado a Polícia Federal, o STF e o governo dos EUA — nenhum órgão confirmou qualquer tipo de autorização, apoio ou incentivo à permanência do deputado no país.
Fuga planejada e mandado de prisão
O STF apontou que Ramagem deixou o Brasil após sinais evidentes de que seria preso. A Polícia Federal identificou sua saída do Rio de Janeiro rumo a um estado do Norte, seguido por deslocamento terrestre até um país vizinho, e só então o embarque para os Estados Unidos.
Apesar de condenado, o deputado ainda não cumpria pena pois o processo da trama golpista não transitou em julgado. Mesmo assim, a tentativa de fuga motivou a decretação da prisão preventiva.
Narrativa de perseguição e vitimização
Durante a entrevista, Ramagem repetiu o discurso de perseguição política, acusando o STF, a Polícia Federal e o governo brasileiro de promover “lawfare”. Disse ainda que estava nos EUA para “proteger sua família” e que permanecer no Brasil significaria ver suas filhas presenciarem sua prisão.
“É lógico que eu não ia ficar no Brasil”, afirmou, ignorando as determinações judiciais que proibiam sua saída do país e exigiam entrega do passaporte.
Esposa reforça versão e exibe reencontro em Miami
No domingo (23), a esposa do deputado, Rebeca Ramagem, publicou um vídeo mostrando o reencontro da família em Miami. No post, alegou que viajaram para “proteger a família” e que seriam vítimas de “perseguição desumana”. Nenhuma prova dessas acusações foi apresentada.
Crimes que levaram à condenação
O STF condenou Ramagem por:
• Organização criminosa armada
• Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
• Golpe de Estado
A 1ª Turma concluiu que ele usou a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — da qual foi diretor no governo Bolsonaro — para vigiar adversários e disseminar desinformação que alimentou a ofensiva golpista.
A “anuência” dos EUA: narrativa política sem comprovação
Até o momento, nenhuma autoridade dos Estados Unidos confirmou conhecer, aprovar ou registrar oficialmente a presença de Ramagem no país. A declaração do deputado se sustenta apenas na sua própria versão — politicamente conveniente, mas sem lastro oficial.
Enquanto isso, no Brasil, a Justiça segue aguardando sua apresentação ou captura para que a ordem de prisão preventiva seja cumprida.

