O relatório entregue pelo governador Cláudio Castro ao Supremo Tribunal Federal (STF) revela divergências nos números de presos durante a megaoperação realizada no último dia 28 nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos.
O documento, encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, indica que 99 pessoas foram detidas — 82 em flagrante e 17 por mandados de prisão —, entre elas, dez menores de idade.
Na coletiva de imprensa concedida após a operação, representantes das secretarias estaduais de Segurança, da Polícia Civil e da Polícia Militar haviam informado que 113 suspeitos foram presos. Oito dias depois, a Defensoria Pública do Rio ainda não teve acesso à lista com os nomes dos detidos, o que tem gerado críticas de entidades e organismos de direitos humanos.
Divergências e falta de transparência
A Polícia Civil explicou, em nota, que a diferença se deve a uma duplicação nas informações iniciais, pois alguns dos presos em flagrante já tinham mandados de prisão expedidos contra eles.
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Rio de Janeiro (OAB-RJ) reagiu à falta de transparência e afirmou esperar que “as informações sobre a Operação Contenção sejam amplamente divulgadas à sociedade e aos órgãos competentes, em razão do princípio da transparência”. A entidade criou o Observatório de Investigações para acompanhar os desdobramentos da ação e prometeu adotar “as medidas cabíveis para a obtenção de informações precisas e consistentes sobre os fatos”.
Detalhes do relatório
O documento de 26 páginas enviado ao STF informa que, entre os 99 presos, 29 são oriundos de outros estados e 17 tinham mandados em aberto. A meta da operação, segundo o governo, era capturar cem procurados.
Entre os 115 suspeitos mortos já identificados — dois corpos ainda passam por perícia —, 59 tinham mandados de prisão. O relatório, no entanto, não esclarece se esses nomes estavam entre os cem alvos previstos.
Castro afirmou no relatório que houve “uso proporcional da força” diante da “ameaça imposta pelo Comando Vermelho (CV)”. O texto descreve que os criminosos enfrentaram os 2,5 mil agentes mobilizados com “armas de uso restrito” e “táticas típicas de guerrilha urbana”.
“As capacidades técnicas e os armamentos das forças policiais, em muitos aspectos, se mostram em desvantagem frente a organizações criminosas de perfil paramilitar”, escreveu o governador.
Uso de drones e armamento pesado
O relatório relata que cerca de 500 criminosos usavam roupas camufladas e se deslocavam por “trilhas clandestinas em meio à vegetação”, lançando granadas contra os policiais por meio de drones.
Em nota complementar, o governo afirmou que os traficantes dispõem de armamento pesado proibido para as forças de segurança. “A polícia está limitada a fuzis 7,62 e 5,56, não pode usar granadas nem drones com capacidade de ataque”, informou.
O texto acrescenta que as facções da Penha e do Alemão têm entre 800 e mil fuzis e utilizam “técnicas de defesa territorial baseadas no conhecimento total do terreno, com rotas de fuga, túneis, minas terrestres, barricadas e pontos de observação”.
Apreensões e armamento de guerra
O relatório enfatiza o “elevado poder bélico” dos criminosos, que utilizariam fuzis automáticos de calibres .30 e .50, ambos de uso proibido para as polícias.
O governo também revisou os números de apreensões: agora são 122 armas (antes eram 118), sendo 96 fuzis, 25 pistolas e um revólver. Foram recolhidos ainda 260 carregadores, 5,6 mil projéteis e 12 artefatos explosivos.

