A articulação política entre Marcelo Freixo e Davi Alcolumbre resultou em um aporte de R$ 10 milhões do governo do Amapá à Mangueira para o Carnaval de 2026, operação que se tornou um dos maiores investimentos culturais do estado em 2025 e reacendeu o debate sobre o papel de recursos públicos em enredos que projetam identidades regionais no país.
Pontos-Chave
- Valor: R$ 10 milhões — terceiro maior termo de fomento do Amapá em 2025.
- Articulação: Aproximação iniciada por Freixo; incentivo político de Alcolumbre.
- Enredo: Homenagem à Amazônia negra e a Mestre Sacaca.
- Pagamentos: R$ 6 milhões já liberados até outubro.
- Justificativa oficial: Fomento cultural e fortalecimento do turismo.
O repasse de R$ 10 milhões firmado pelo governo do Amapá com a Mangueira para o Carnaval de 2026 consolidou-se como uma das alianças políticas mais comentadas do ano. A costura foi impulsionada pela relação entre o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que aproximaram a gestão estadual da Verde e Rosa em uma iniciativa que combina diplomacia cultural, visibilidade nacional e estratégia territorial.
Assinado em abril pela secretária de Cultura do Amapá, Clícia Vieira, irmã do governador Clécio Luís, o termo de fomento elevou o estado ao centro das atenções no universo do samba. Segundo a gestora, o interesse da Mangueira surgiu após diálogo entre Freixo e Alcolumbre, momento em que ambos destacaram a potência cultural do estado e a pertinência de um enredo inspirado na “Amazônia negra”. Freixo confirmou a interlocução, mas foi categórico ao afirmar que não participou de discussões financeiras. Alcolumbre, por sua vez, declarou ter atuado apenas como incentivador do projeto.
A movimentação ganhou forma administrativa ainda no primeiro semestre: de acordo com o Portal da Transparência, R$ 6 milhões — dos R$ 10 milhões previstos — já haviam sido pagos até outubro. O recurso financia o enredo “Amapá, terra das águas e da liberdade: a Amazônia negra brasileira”, centrado na trajetória de Mestre Sacaca, curandeiro e folclorista celebrado por seu vínculo com saberes tradicionais e pela defesa da cultura amazônica.
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Articulação política e impacto na projeção nacional do Amapá
O governo estadual afirma que a Mangueira foi a única escola interessada em desenvolver um enredo sobre o Amapá e que a homenagem gera retorno estratégico. Na nota oficial, a gestão defende que iniciativas como esta fortalecem o turismo, ampliam a visibilidade cultural do estado e valorizam personagens regionais historicamente negligenciados. O argumento se ancora na ideia de que o carnaval do Rio — maior vitrine cultural do país — é terreno fértil para difusão simbólica e política.
Alcolumbre reforçou que não houve liberação de verbas por parte do Senado e destacou que é frequentemente procurado para tratar de temas envolvendo seu estado natal. Disse, ainda, que se orgulha de ter estimulado o enredo, enxergando nele uma oportunidade de desenvolvimento econômico e consolidação da imagem do Amapá.
Já a Embratur, dirigida por Freixo, não tem qualquer vínculo financeiro com o desfile. A instituição, no entanto, já havia patrocinado o Camarote Verde e Rosa em 2025, com um repasse de R$ 200 mil — ação prevista dentro das estratégias de promoção turística do Brasil. A sugestão do enredo, segundo a própria Embratur, surgiu em conversa entre Freixo e Alcolumbre sobre potencialidades culturais da Amazônia Negra amapaense.
Precedentes e o debate sobre uso de recursos públicos no Carnaval
O caso amapaense não é isolado. Em 2024, Maceió destinou R$ 8 milhões para que a Beija-Flor homenageasse a capital alagoana — episódio que chegou a gerar representação no Tribunal de Contas. Em 2025, o Pará também ganhou protagonismo no enredo da Grande Rio, com recursos obtidos por meio de incentivos fiscais e participação de empresas privadas. Esses precedentes mostram que governos locais vêm utilizando o Carnaval como ferramenta de promoção territorial, numa interseção crescente entre política, cultura e economia.
A assessoria de Alcolumbre reiterou em nota que não houve repasse de verbas de sua alçada e que o incentivo ao projeto visa ampliar a visibilidade do Amapá, fortalecer o turismo e impulsionar a economia cultural do estado.




