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Câmara do Rio relança Frente da Pequena África

Rio de Janeiro – Enquanto a especulação imobiliária tenta apagar os rastros da história negra do Brasil a cada prédio erguido na Zona Portuária, a Câmara Municipal do Rio reinstalou, nesta segunda-feira (26 de maio), a Frente Parlamentar da Pequena África. A iniciativa, liderada pela vereadora Thais Ferreira (PSOL), retoma os trabalhos em torno de um dos territórios mais simbólicos da ancestralidade africana nas Américas — e um dos mais ameaçados pelo “progresso” seletivo que empurra cultura e pobreza para debaixo do asfalto.

A frente Pequena África tem como foco o miolo entre o Saara e os bairros da Gamboa e Saúde, coração pulsante da antiga Zona Portuária do Rio, onde está fincada uma memória coletiva que o racismo institucional insiste em ignorar. É ali que estão o Cais do Valongo, reconhecido como Patrimônio Mundial pela UNESCO, e a Pedra do Sal, berço do samba de raiz e da resistência afro-carioca.

Patrimônio que resiste ao apagamento

De acordo com Thais Ferreira, a frente tem atuado desde 2021 com base em participação popular, e já coleciona resultados concretos: 12 leis aprovadas entre os 16 projetos de lei apresentados, além de 14 indicações legislativas e diversas ações de fiscalização, como requerimentos de informação sobre políticas públicas negligenciadas pela prefeitura.

A vereadora afirma que reinstalar a frente é mais do que um gesto simbólico. “Reconhecer e valorizar a memória negra, assim como preservar seu patrimônio imaterial e material, é uma oportunidade de promover a reparação histórica que nossa cidade precisa”, declarou nas redes sociais.

Não se trata apenas de lembrar, mas de garantir que essa memória viva seja transformada em políticas concretas. A zona da Pequena África, onde mais de um milhão de africanos escravizados desembarcaram à força entre os séculos XVIII e XIX, carrega traumas não cicatrizados que exigem resposta institucional à altura.

Entre a especulação e a resistência

Desde que o Rio começou a “revitalizar” sua zona portuária com o Projeto Porto Maravilha, as comunidades da Pequena África têm enfrentado uma guerra silenciosa: o apagamento cultural mascarado de modernização. Grandes empreendimentos, parcerias público-privadas e promessas de turismo “limpo” caminham lado a lado com o descaso pelos moradores históricos da região e o abandono de políticas de preservação real.

A própria UNESCO, ao incluir o Cais do Valongo na lista de Patrimônio Mundial em 2017, ressaltou a necessidade de ações permanentes de preservação. Mas, na prática, o que se vê são pichações racistas, placas arrancadas e projetos culturais desidratados pela máquina pública — quando não simplesmente ignorados.

Nesse cenário, a frente Pequena África volta a operar como uma trincheira legislativa contra o esquecimento institucionalizado.

Políticas públicas em disputa

A retomada da Frente é, também, uma resposta à ausência crônica de políticas públicas voltadas para a valorização da cultura negra e da memória africana no Rio. Nos últimos anos, gestões conservadoras e omissas têm se apoiado em slogans turísticos enquanto negligenciam os espaços e as pessoas que sustentam essa narrativa.

A proposta de Thais Ferreira e do PSOL Carioca é pressionar o poder público para transformar o território em zona de preservação permanente, com fomento à educação antirracista, economia solidária e turismo de base comunitária. “Não dá mais para aceitar que o território negro mais importante do Brasil continue sendo tratado como ‘cenário’ e não como sujeito de políticas”, disse a vereadora ao Diário Carioca.

A medida se soma a outras iniciativas que ecoam na política fluminense, como a CPI da dívida histórica com a população negra e projetos de valorização das religiões de matriz africana.


O Carioca esclarece

O que é a frente Pequena África?
É uma frente parlamentar da Câmara Municipal do Rio voltada para políticas públicas de preservação e valorização da memória negra na zona portuária.

Quem lidera a frente?
A vereadora Thais Ferreira (PSOL), atual líder do partido na Câmara, coordena a frente com participação popular desde 2021.

Por que a frente é importante?
Ela atua na formulação de leis, fiscalização e articulação comunitária para proteger espaços como o Cais do Valongo e a Pedra do Sal, além de promover reparação histórica.

Como isso afeta a democracia e os direitos?
A frente busca enfrentar o racismo estrutural e o apagamento da memória negra, fortalecendo a cidadania e os direitos culturais da população afrodescendente.

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Redacao
Redacaohttps://www.diariocarioca.com
Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

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