Após a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos nas favelas da Penha e do Alemão, o governador Cláudio Castro (PL) anunciou um pacote de valorização para o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope).
Em vídeo gravado nas instalações do Bope, Castro anunciou um reajuste salarial de 67% na gratificação especial da tropa, que não sofria atualização há 18 anos, passando o valor de R$ 1,5 mil para R$ 2,5 mil.
Além do aumento salarial, o governo destinou R$ 31,6 milhões para aquisição de armamentos e equipamentos avançados, incluindo:
- 274 armas automáticas (fuzis, submetralhadoras e metralhadoras);
- 24 lunetas para tiros de precisão;
- 59 equipamentos para visão noturna e medição de distância;
- Drones e câmeras térmicas para monitoramento;
- 373 capacetes balísticos;
- 1.200 fardamentos especiais resistentes a insetos, água e fogo;
- 2 embarcações infláveis, 12 escadas táticas telescópicas e 33 escudos de diferentes configurações;
- Robô tático e kits portáteis para entrada forçada.
O investimento foi descrito por Castro como “o maior já feito de uma vez só” em armamento e infraestrutura do Bope, ressaltando que o objetivo é equipar a tropa com tecnologia de ponta para melhor atendimento à população e combate à criminalidade dentro da lei. O governador agradeceu o apoio da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que aprovou projetos para ampliar os gastos com segurança pública, mostrando a segurança como prioridade do seu governo.
Críticas e contexto social
Este anúncio, contudo, ocorre em meio a críticas severas de especialistas, organizações de direitos humanos e setores do governo federal, sobretudo pela operação policial que resultou na trágica chacina. O discurso oficial dá tom de celebração e valorização da tropa, que é apresentada como heroica. No entanto, agentes públicos e a sociedade civil apontam que o foco excessivo na militarização e recompensa do braço armado do Estado acontece enquanto outras áreas, como educação e saúde, enfrentam cortes e longos períodos sem reajuste salarial — professores, por exemplo, seguem há mais de três anos sem aumentos reais.
Críticos também interpretam o anúncio como estratégia política antecipada, em vez de uma política pública equilibrada e preventiva. Não foram apresentados planos efetivos para fortalecer a inteligência policial ou medidas que evitem a violência das operações, perpetuando um ciclo de violência letal e conflitos sociais que afetam principalmente as comunidades vulneráveis do Rio.
Enquanto as famílias das vítimas ainda lutam para identificar corpos no IML e exigem investigações independentes sobre execuções sumárias e ocultação de cadáveres, o governador celebra o que chama de “sucesso” da operação e fortalece a mesma tropa envolvida no episódio.

