O Sucesso de Castro

Enquanto a direita comemora violência nas favelas: crianças do Rio vivem rotina de guerra e enfrentam graves traumas

Crianças nas favelas do Rio enfrentam uma infância marcada por tiroteios, medo constante e traumas emocionais, com escolas frequentemente fechadas e rotina impactada por operações policiais violentas

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Crianças brincam em praça da Vila Cruzeiro ao lado de barricadas que foram colocadas para conter avanço de policiais durante a Operação Contenção. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em favelas como Alemão, Penha e Maré, crianças do Rio de Janeiro convivem diariamente com tiroteios, operações policiais e o controle de facções criminosas, vivendo uma infância marcada pelo medo, traumas psicológicos e interrupção do direito à educação.

Viver sob constante ameaça de violência virou realidade para milhares de famílias cariocas. Após a megaoperação realizada no final de outubro de 2025, que resultou em mais de 120 mortos, moradores do Alemão e Penha relatam cenas de guerra urbana. Crianças carregam mochilas com kits de sobrevivência que incluem biscoitos, brinquedos, água e abafadores de som para minimizar o impacto dos disparos. Essas práticas mostram como as comunidades se adaptam para tentar proteger os pequenos em meio ao fogo cruzado.

A fisioterapeuta e psicóloga Mônica Cirne, voluntária nestas áreas, afirma que as operações paralisaram atendimentos presenciais e geraram aumento considerável na procura por suporte psicológico. Crianças atípicas registraram convulsões e crises durante os tiroteios, evidenciando o impacto direto da violência no desenvolvimento infantil. A assistente social Rafaela França, do Núcleo de Estimulação Estrela de Maria (Neem), relata que o isolamento escolar se estende por semanas em algumas regiões e que até mesmo os alunos “típicos” sofrem com o trauma causado pela rotina de medo.

De acordo com a psicóloga Edwiges Parra, a vida sob violência intensa obriga as crianças a criarem mapas mentais para evitar áreas perigosas, gerando ansiedade, estresse pós-traumático e outros transtornos emocionais graves que precisam de acompanhamento contínuo. O Instituto Fogo Cruzado contabilizou 14 crianças baleadas no Rio somente em 2025, com quase mil escolas afetadas por tiroteios e interrupções no ano corrente.

Na Maré, por exemplo, a ONG Redes da Maré reportou 37 dias de paralisação escolar em 2024 e nove dias em 2025, além do Projeto Cartas da Maré, que oferece uma voz às crianças para que relatem em desenhos e textos suas experiências sob a violência, buscando sensibilizar o Supremo Tribunal Federal (STF) e a sociedade para a situação da infância nas favelas. Muitas dessas cartas pedem o fim da guerra e o direito ao acesso à educação em segurança.

Organizações humanitárias, como a Visão Mundial, trabalham para que o Brasil implemente protocolos de proteção infantil similares aos de países vizinhos, como Chile e Guatemala, onde programas em zonas de conflito diminuíram os transtornos psicológicos e melhoraram a frequência escolar. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), presidente da Comissão de Direitos Humanos, cobrou do governador Cláudio Castro a adoção urgente de medidas específicas, desde abrigo seguro para órfãos até ações para punir quem utiliza crianças como escudo humano.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.