Após a megaoperação policial que matou 121 pessoas nos complexos do Alemão e da Penha, governadores aliados do governador Cláudio Castro (PL) criaram o chamado “Consórcio da Paz”, iniciativa que propõe integrar esforços estaduais no combate ao crime organizado. Contudo, o nome e a retórica da ação têm sido alvo de críticas contundentes por especialistas em ciências sociais e direitos humanos.
“Consórcio da Morte”: crítica ao discurso oficial
O sociólogo Ignacio Cano, professor da UERJ, sustenta que o nome escolhido para o consórcio “inverte o sentido da operação” e deveria se chamar “Consórcio da Morte”. Para ele, a iniciativa não representa a paz, mas sim a intensificação da letalidade policial e da violência estatal. Cano enfatiza que os governadores de direita vêm promovendo operações que resultam em altos números de mortes, evidenciando uma política de segurança pautada no uso excessivo da força.
“Os governadores erraram no nome. Deveria se chamar Consórcio da Morte, porque é isso que eles estão propondo. Certamente não é a paz”, pontua Cano. “Retoricamente, toda vez que usarem o termo, serão lembrados das mortes produzidas por seus governos.”
Narcoterrorismo: ocultação da incompetência
Quem também se posicionou contra a narrativa oficial foi a antropóloga Jacqueline Muniz (UFF), que repudiou o uso do termo “narcoterrorismo”, adotado pelo governador Cláudio Castro e outros aliados como Tarcísio de Freitas e Romeu Zema. Para Muniz, essa expressão mascararia “a incompetência e o oportunismo político” dos governantes, desviando o foco dos verdadeiros problemas estruturais de segurança pública e da ausência de políticas sociais efetivas.
Políticas públicas e embates políticos
Especialistas ressaltam que o enfrentamento ao crime organizado no Rio, que possui desdobramentos complexos em âmbito nacional, não pode se resumir a operações policiais militares e civis de alto impacto letal. A violência gerada tem elevado tensões sociais e alimentado discursos de confrontação que aprofundam a crise.
A proposta do “Consórcio da Paz” incluiria integração logística e de inteligência entre estados, mas para muitos críticos permanece superficial, insuficiente para reverter o quadro de criminalidade e desigualdade. Além disso, houve acusações de uso político-eleitoral da operação e do consórcio por parte dos governadores.
Caminhos necessários
Alternativas apontadas por analistas incluem políticas estruturais focadas em educação, saúde, desenvolvimento social e investimentos em estratégias de prevenção. A cooperação entre governos federal, estadual e municipal deve priorizar o combate financeiro e logístico às facções criminosas, com foco nos núcleos económicos e políticos que sustentam o crime.


