Rio de Janeiro – A Praia do Pepê, cartão-postal da Barra da Tijuca, amanheceu com um cenário para lá de desanimador nesta quarta-feira (14): uma mancha barrenta, vinda da Lagoa da Tijuca, tomou conta do mar, num retrato perfeito da negligência ambiental carioca.
Flagrado pelo Globocop e exibido no RJTV1, o esgoto in natura escorrendo direto para o oceano virou mais uma cena rotineira do verão fora de época na Zona Oeste do Rio. A água escura, turva e malcheirosa avançou sobre a orla como se fosse dona da praia — e, sinceramente, tem sido.
Imagens escancaram esgoto a céu aberto na Barra
Do alto, as imagens são chocantes: o encontro da Lagoa da Tijuca, tomada por esgoto, com o mar da Barra forma uma faixa extensa de coloração alterada que rasga a beleza da Praia do Pepê. A lagoa, que deveria ser patrimônio ambiental, virou depósito de dejetos urbanos. E ninguém parece se importar.
Não é a primeira vez que isso acontece. Muito menos será a última, enquanto autoridades fingirem que não veem. A água contaminada pode comprometer a balneabilidade da região, tornando o banho de mar um risco à saúde pública.
Inea e Iguá somem enquanto o mar apodrece
Procurado, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) ainda não informou se há alguma investigação em andamento ou medidas emergenciais para conter a poluição. A omissão do órgão, aliás, segue o padrão: fiscalização que só aparece depois da denúncia na TV.
A Iguá Saneamento, empresa contratada para as obras de dragagem e limpeza na área, também ficou em silêncio até agora. O mar sujo, no entanto, fala alto: o serviço — se é que está sendo feito — claramente não tem dado conta.
Um velho problema com cara de tragédia anunciada
O despejo de esgoto na Lagoa da Tijuca é um drama antigo, agravado por décadas de expansão urbana irresponsável, especulação imobiliária e um sistema de saneamento que vive em colapso. A promessa de despoluição já virou piada entre os moradores.
Enquanto isso, turistas se banham em águas potencialmente contaminadas, e moradores veem suas praias virarem depósito de rejeitos. A mancha barrenta é só a ponta visível do que se esconde sob as águas do Rio.
Iguá nega relação entre mancha e operação na rede de esgoto
Em contato com o Diário Carioca, a Iguá negou que a mancha no mar da Barra da Tijuca tenha relação com a operação da rede coletora de esgoto da concessionária.
De acordo com a nota, a mancha está relacionada a combinação de fatores meteorológicos.
Leia abaixo a integra da nota da concessionária Iguá:
A Iguá esclarece que a mancha avistada na praia do Pepê, na manhã desta quarta-feira, dia 14, não tem relação com a operação da rede coletora de esgoto da concessionária. Este é um fenômeno que acontece há anos, de acordo com fenômenos naturais.
A mancha está relacionada a combinação de fatores meteorológicos, como a ocorrência de ressaca e a maré de sizígia, já registrados em ocasiões anteriores.
A concessionária também reforça que o projeto de dragagem do Complexo Lagunar tem como objetivo contribuir para revitalização das lagoas, que sofrem há décadas com a poluição. Ao longo de sua execução, já foi identificada a melhora da troca hídrica no sistema lagunar, o que contribui para aumentar a oxigenação e qualidade da água.