Rio de Janeiro — 8 de julho de 2025 – O New York Times criticou as novas regras da prefeitura do Rio que restringem a atuação de ambulantes e impõem padrões visuais à orla da cidade.
Prefeitura quer ordem, mas desfaz história
O decreto que muda a cara das praias do Rio pode até ter sido assinado em gabinete com ar-condicionado, mas está sendo escrito na areia, com rastros de insatisfação. A crítica agora atravessou fronteiras: o New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo, dedicou reportagem à nova “reforma estética” da orla carioca e questionou o impacto das medidas sobre a alma popular que sustenta o Rio há décadas.
Segundo o jornal, a padronização imposta pelo prefeito Eduardo Paes — que proíbe bandeiras coloridas, barracas com lonas personalizadas e o uso de objetos essenciais para a venda de alimentos — representa o “fim do caos”. Mas o tom da matéria é menos celebrativo do que irônico: o caos ao qual se refere é justamente o espetáculo cotidiano das praias — vendedores, churrasquinhos, biquínis, milho cozido e mate gelado — que fazem do litoral carioca um espaço vivo, popular e imprevisível.
Mate, milho e proibição
Entre as proibições que entraram em vigor em julho, estão o uso de botijões de gás, carvão, espetos de madeira e isopor. Na prática, isso retira de cena personagens como o vendedor de queijo coalho, o ambulante do camarão na brasa e a vendedora do milho cozido — agora tratados como ilegais. O que era patrimônio virou “poluição visual”, na definição do próprio Paes.
A reportagem lembra que, há 11 anos, o mesmo prefeito transformou o vendedor de mate em patrimônio cultural carioca. Hoje, outros ambulantes vivem sob ameaça de multas, repressão e apagamento.
Estética de planilha, identidade interditada
O decreto também determina que todas as barracas usem placas idênticas em preto e branco, com fonte padronizada. Um funcionário de barraca na Praia do Leblon chegou a virar o letreiro de cabeça para baixo para driblar a norma. A paisagem multicolorida das praias cede espaço à lógica da uniformização — sem que se discuta o que isso significa para a identidade cultural da cidade.
O vice-prefeito Eduardo Cavaliere justificou a medida como uma tentativa de “trazer ordem”, mas reconheceu que o caos das praias é, ao mesmo tempo, sua beleza. Declarou que seu prato preferido — milho cozido — agora está proibido.
Sobrevivência sob sol e repressão
Os ambulantes ouvidos pelo Times revelam outra realidade. Muitos dizem que a venda nas praias é sua única fonte de renda, com lucros diários que variam entre R$ 50 e R$ 550, dependendo do clima e do movimento. Com a repressão, perderão sustento e espaço. Alguns já foram multados. Outros enfrentam insegurança jurídica sem alternativas reais.
A reportagem lembra que as tentativas de “organizar” as praias já fracassaram antes. Quando Paes quis proibir o mate nas latas de aço, a reação foi tão forte que o projeto recuou — e o mate virou símbolo do Rio.
O Diário Carioca Esclarece
- Decreto 553: É a norma da Prefeitura do Rio que impõe novas regras à orla, incluindo padronização visual e proibição de alimentos preparados com gás, carvão e espetos.
- Identidade cultural das praias: A paisagem da orla do Rio é composta por vendedores informais, sons, aromas e cores que formam um ecossistema popular e tradicional.
- Patrimônio cultural: O vendedor de mate foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial da cidade em 2014, por decreto do próprio Eduardo Paes.
- Crítica internacional: O New York Times se soma a outras vozes que enxergam nas novas regras uma ameaça ao caráter democrático e vibrante das praias.
FAQ (Perguntas Frequentes)
O que exatamente muda com o novo decreto nas praias do Rio?
As barracas devem seguir padronização visual rígida e não podem usar itens como carvão, botijões de gás, espetos e caixas térmicas.
Essas medidas afetam quais vendedores?
Vendedores de alimentos como milho, queijo coalho, camarão, carne e bebidas preparadas na hora estão entre os mais impactados.
A medida já está sendo aplicada?
Sim. Desde julho, fiscais aplicam multas e notificações. Alguns ambulantes já foram autuados.