Vergonha militar

Polícia investiga abordagem de PMs a jovens negros filhos de diplomatas, no RJ

Foto: Reprodução de TV
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A Polícia Civil do Rio de Janeiro iniciou uma investigação após a divulgação de um incidente envolvendo policiais militares e um grupo de adolescentes na Rua Prudente de Moraes, em Ipanema, na Zona Sul da cidade. O caso, ocorrido na última quarta-feira (3), envolveu filhos de diplomatas e foi considerada racista por testemunhas.

De acordo com a delegada Patrícia Alemany, da Delegacia Especial de Apoio ao Turismo (Deat), localizada no Leblon, a investigação é conduzida com rigor para entender o que ocorreu durante a abordagem. Além da Deat, a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central do Rio, também apura o caso para verificar se houve crime de injúria racial.

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Segundo Rita Salim, delegada da Decradi, é essencial investigar se a abordagem dos policiais militares configurou racismo ou injúria racial, conforme relatos e testemunhos coletados até o momento.

O próximo passo das autoridades é entrar em contato com as famílias dos adolescentes envolvidos, que serão convocadas para prestar depoimento e contribuir com as investigações. Os dois policiais militares que realizaram a abordagem também serão intimados a prestar esclarecimentos no decorrer do processo.

Paralelamente, a Corregedoria da Polícia Militar iniciou um inquérito para investigar o comportamento dos policiais envolvidos no incidente.

Entenda o caso

Foto: Reprodução de TV

O incidente, registrado em vídeo, mostra policiais militares apontando armas para adolescentes negros, filhos de diplomatas, acompanhados de dois garotos brancos. A abordagem, ocorrida em Ipanema, foi denunciada como racista por uma das famílias envolvidas.

Raiana Rondhon, mãe de um dos adolescentes, compartilhou nas redes sociais que os jovens, de 13 e 14 anos, estavam de férias no Rio de Janeiro. Eles haviam deixado um amigo em casa quando foram abordados. Segundo Raiana, os adolescentes eram de diferentes nacionalidades, incluindo Canadá, Gabão e Burkina Faso.

As imagens, os testemunhos e o relato das crianças são claros!! Não há dúvida!! A abordagem foi RACIAL e CRIMINOSA!!

Raiana Rondhon

Reação Diplomática

O embaixador do Gabão no Brasil, Jacques Michel Moudouté-Bell, enviou uma carta ao Itamaraty protestando contra a abordagem, classificando-a como racista. O Ministério das Relações Exteriores convocou uma reunião com as famílias dos jovens para discutir o incidente.

Julie-Pascale Moudouté-Bell, embaixatriz do Gabão e mãe de um dos adolescentes, expressou choque com a agressividade da abordagem.

Como que você vai apontar armas para a cabeça de meninos de 13 anos? Mesmo nós adultos, você me aborda, você me pergunta primeiro.

Julie-Pascale Moudouté-Bell, embaixatriz do Gabão

Julie-Pascale apelou por justiça, confiando que as autoridades brasileiras tomarão as medidas necessárias.

Em resposta ao questionamento levantado pelo Diário Carioca, a PM informou que os policiais envolvidos na abordagem dos adolescentes em Ipanema estavam equipados com câmeras corporais, cujas imagens serão analisadas para verificar se houve algum excesso por parte dos agentes.

A Secretaria de Estado de Polícia Militar destacou que disciplinas como Direitos Humanos, Ética, Direito Constitucional e Leis Especiais são prioridades absolutas nos cursos de formação tanto para praças quanto para oficiais da corporação.

O Diário Carioca entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores, que enviou uma nota oficial sobre as medidas que está tomando sobre o assunto. Leia abaixo na integra:

O Ministério das Relações Exteriores informa que recebeu, na manhã de hoje, os Embaixadores do Gabão e de Burkina Faso em Brasília, a propósito da abordagem policial a menores que são filhos de diplomatas acreditados junto ao Estado brasileiro.

Na reunião, foi entregue em mãos dos Embaixadores estrangeiros nota verbal com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro, e o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem.

Nota de teor idêntico será entregue em mãos, ainda hoje, ao Embaixador do Canadá.

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