Rio de Janeiro – Nada como umas férias para redistribuir poder entre amigos. A partir do dia 2 de julho, o governador Cláudio Castro (PL) larga temporariamente o comando do Executivo fluminense para embarcar rumo a Lisboa e, quem sabe, mais alguns destinos secretos. No vácuo, assume Rodrigo Bacellar (União Brasil), presidente da Alerj e articulador-mor do governismo local.
A desculpa oficial? Participar do Fórum de Lisboa, evento apadrinhado pelo ministro do STF Gilmar Mendes, conhecido por reunir autoridades e lobistas sob o manto da “cooperação jurídica internacional”. Já a extensão da viagem não está no cartaz. O que se sabe é que, mais uma vez, Castro deixa o comando nas mãos de aliados, como já fez quando passou o bastão para Thiago Pampolha (MDB), hoje conselheiro do TCE-RJ.
Bacellar assume governo em clima de continuidade
A ascensão de Bacellar à cadeira de governador interino é sintômica. É o retrato da promiscuidade entre os poderes que impera no Rio. Presidente da Alerj desde 2023, ele é conhecido pela habilidade em costurar alianças com o centrão fluminense, pelo controle sobre o Orçamento da casa e pela fidelidade a Castro.
Com a ida de Pampolha para o Tribunal de Contas, Bacellar virou o herdeiro natural do interinato. E a sinalização de que poder, no Rio, é algo que se repassa em família política. Sem eleição, sem consulta popular, sem transparência. Apenas mais um arranjo entre caciques.
Lisboa e Davos: destinos de um governador viajante
Esta não será a única vez que Bacellar vestirá a faixa. Segundo fontes da Alerj, já está sendo costurado um novo afastamento de Castro em janeiro de 2026, quando ele deve embarcar para o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, e emendar com um recesso em família. Ou seja: quem votou em Castro pode acabar sendo governado, por semanas, por Bacellar.
Vale lembrar que Rodrigo Bacellar é investigado por suposto envolvimento em esquemas de rachadinha quando era deputado. Nada que o impeça, no entanto, de exercer a chefia do Estado sem que o eleitor fluminense sequer seja consultado.
O controle da Alerj e as engrenagens do poder
Mais que uma figura de transição, Bacellar é parte estruturante do esquema de poder que hoje domina o Rio. Controla a Assembleia Legislativa com punho firme, garante base governista ampla e interfere diretamente na execução de emendas parlamentares. Sua chegada ao Palácio Guanabara, ainda que temporária, não é um acidente: é estratégia.
O interinato pode servir de vitrine para 2026, quando o xadrez eleitoral será refeito. Não à toa, aliados já testam sua imagem em pesquisas qualitativas. Bacellar quer deixar de ser o homem dos bastidores para se tornar o nome nas urnas.
Um velho roteiro com novos atores
A dinâmica não é nova. O Rio de Janeiro coleciona histórias de governadores afastados, interinos ambiciosos e gestões herdadas por arranjos de conveniência. O que muda é a cara dos protagonistas. Enquanto isso, a população segue como figurante de luxo nesse teatro de repetições.
Na superfície, parece apenas uma folga do governador. Mas à sombra desse “recesso institucional” se desenham estratégias de poder, alianças subterrâneas e ensaios para futuros voos eleitorais.
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O Carioca esclarece
Quem é Rodrigo Bacellar? Deputado estadual, presidente da Alerj desde 2023 e aliado direto de Cláudio Castro. Tem base eleitoral no norte fluminense e perfil centrão-raiz.
Por que Bacellar vai assumir o governo do RJ? Porque Cláudio Castro vai se ausentar para compromissos internacionais e férias, e não há vice-governador desde que Thiago Pampolha assumiu o TCE.
Quais as consequências desse interinato? Além de consolidar alianças políticas, Bacellar ganha projeção e poder institucional. Pode usar o cargo para articular 2026.
Isso é legal? Isso é democrático? Legal, sim. Democrático, discutível. A decisão é feita sem qualquer participação do eleitor. É a institucionalização do tapinha nas costas.
Com informações da Agenda do Poder