Rio de Janeiro, 29 de maio de 2025 — Um relatório divulgado nesta quinta-feira (29) revela que cerca de metade dos estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas na região metropolitana do Rio de Janeiro são afetados pela violência armada. O estudo, intitulado “Educação Sob Cerco”, foi realizado pelo Unicef em parceria com o Instituto Fogo Cruzado, o Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos da Universidade Federal Fluminense (GENI-UFF) e o Centro para o Estudo da Riqueza e da Estratificação Social (CERES-IESP), utilizando dados de 2022.
De acordo com o relatório, mais de 800 mil crianças e adolescentes, de 1.800 escolas públicas da capital e de mais 19 municípios da região, estudam em áreas dominadas por grupos armados. Na capital, mais da metade das escolas estão em áreas dominadas, sendo 28,4% em regiões de milícia e 30% de tráfico. Nas demais cidades da região, a proporção de escolas em áreas de tráfico é similar (29,2%), mas a influência das milícias é significativamente menor (9,6%).
Em 2022, foram contabilizados mais de 4.400 tiroteios nas imediações de escolas, sendo a zona norte do Rio a região com o maior número de ocorrências: 1.714 vezes. Na Baixada Fluminense, foram registrados 1.110 tiroteios. A zona sul do Rio, área nobre da capital, é a região que possui menos escolas em áreas dominadas por grupos armados e também a que teve menos escolas afetadas, com 29 escolas atingidas por 86 tiroteios.
O estudo destaca a frequência com que algumas escolas estão expostas a episódios de violência armada. Em 2022, uma escola de São Gonçalo registrou 18 episódios de violência armada aguda, o que significa, em média, um tiroteio a cada duas semanas.
O relatório também mostra a alta incidência de tiroteios em áreas com mais operações policiais. O número de tiroteios em ações policiais foi três vezes maior em áreas controladas do que em locais não controlados.
Os municípios analisados foram: Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Magé, Maricá, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, Rio Bonito, Seropédica, São Gonçalo, São João de Meriti e Tanguá.
A publicação traz uma série de recomendações aos atores públicos para a prevenção da violência armada contra crianças e adolescentes, entre elas: implementar e ampliar protocolos de resiliência em serviços e comunidades; desenhar e implementar um modelo de reparação de serviços e da comunidade; integrar políticas de segurança e educação e erradicar os impactos negativos de operações policiais no entorno de escolas; implementar a Lei Ágatha Felix, que estabelece que todos os crimes contra crianças e adolescentes no estado do Rio de Janeiro terão prioridade nas investigações; desenhar e implementar um modelo protetivo de segurança pública para a infância e adolescência, e enfrentar com inteligência e investigação os grupos armados no Rio de Janeiro; fortalecer uma educação que proteja contra a violência.
O relatório divulgado é o primeiro de uma série de dois estudos. No segundo, serão avaliados os efeitos da influência da violência armada sobre aprendizado e taxa de abandono escolar.