A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver iniciou oficialmente sua programação na manhã desta terça-feira e contou com uma sessão solene histórica no Plenário Ulysses Guimarães, na Câmara dos Deputados. A sessão, presidida pela deputada federal Benedita da Silva, referência incontornável da luta antirracista no Brasil, homenageou a Marcha e reafirmou o papel das mulheres negras como força estruturante da democracia brasileira.
Houve execução do Hino Nacional na abertura da sessão, marcada pela presença de mulheres negras de todas as regiões do país, de lideranças da diáspora e de uma mesa composta por parlamentares, ministras, mães de jovens assassinados pelo Estado e representantes do movimento.
No primeiro discurso, a deputada Talíria Petrone destacou a emoção de ocupar o plenário: “O povo brasileiro é a mulher negra. Como Benedita abriu caminho para mim, nós temos a obrigação de abrir caminho para outras. A agenda que o Brasil precisa –- do Bem Viver e da dignidade — passa pela reparação e pela presença de mulheres negras em todos os espaços de poder. Nós chegamos aqui em marcha, na nossa marcha coletiva. Aqui está o Congresso do povo”.
A ministra da Cultura, Margareth Menezes, reforçou a centralidade da luta: “Depois de 300 anos de escravidão, sem reparação nenhuma, é preciso que façamos esta Marcha. É preciso chamar a atenção da população brasileira, porque estamos fartos de tanto desrespeito à vida das pessoas negras.”

Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, recuperou a memória da Marcha de 2015: “Estamos todas em marcha. Em 2015, marchamos contra o genocídio da juventude negra e pelo Bem Viver. Esta marcha traz um recado: se vocês combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer. Queremos um Estado com justiça racial para o nosso povo”,
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, emocionou o plenário ao saudar sua mãe, presente no auditório, e ao relembrar as recentes chacinas do Complexo do Alemão e da Penha: “Sempre somos, sempre fomos e sempre estaremos em marcha. Marchamos contra a violência de Estado. Chegaremos —- eles querendo ou não.”
Representando o Comitê Nacional da Marcha, a coordenadora Érika Mateus, da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), afirmou: “Enquanto uma mulher negra e trans, afirmo: já sabemos que quando uma mulher negra não está segura, ninguém está. É por isso que estamos em marcha. Marchamos porque não aceitaremos mais retrocessos contra a democracia”.
Em seguida, Joyce Souza, do Odara — Instituto da Mulher Negra, realizou a leitura oficial da Carta da Marcha ao Parlamento, reafirmando os compromissos políticos do movimento de mulheres negras.
A ministra das Mulheres, Márcia Lopes, reforçou o reconhecimento institucional: “Sem vocês, mulheres negras, o Brasil não avança. Queremos igualdade de gênero e igualdade racial como pilares do presente.”
O momento mais contundente da solenidade veio das mães que perderam seus filhos para a violência de Estado: elas subiram à tribuna e transformaram o plenário em um espaço de denúncia, memória e reivindicação por justiça.
Tauã Brito, mãe de Welington, morto na operação recente no Complexo da Penha, denunciou: “me tiraram o direito de ver meu filho preso vivo. Essa operação foi feita para tirar a vida desses jovens. Ali existem sonhos, mães que não criam seus filhos para serem bandidos. Pedimos justiça”.Sob aplausos, a sessão foi encerrada ao som das Sambadeiras do DF, fazendo do plenário um território de ancestralidade e celebração da força coletiva das mulheres negras.
A cerimônia na Câmara dos Deputados faz parte da programação da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, mobilização transnacional que reúne mulheres de mais de 40 países, e que se seguirá ao longo do dia , culminando com a grande marcha na Esplanada dos Ministérios. Ao final do dia, haverá audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin.
A Marcha das Mulheres Negras
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é construída por mulheres negras de todo o Brasil de diferentes gerações, territórios e contextos sociais, além de mulheres afrodescendentes de mais de 40 países. Autônoma, coletiva e transnacional, a Marcha resgata a força histórica da mobilização de 2015 e atualiza sua agenda a partir dos desafios contemporâneos. Em 25 de novembro de 2025, mulheres negras de todo o mundo ocupam Brasília para reafirmar a luta por reparação histórica, democracia e Bem Viver.




