Julgamento do STF pode promover censura no Brasil?

23 de outubro de 2024
2 mins read
Divulgação
Divulgação

O Supremo Tribunal Federal (STF) agendou para 27 de novembro o julgamento de três ações que poderão moldar o futuro da regulação das redes sociais no Brasil. A discussão central envolve a responsabilidade das plataformas na remoção de conteúdos que disseminam desinformação e discurso de ódio, sem depender de uma ordem judicial prévia – uma questão que tem provocado intenso debate nos últimos anos.
 

Para o especialista em redes sociais Antonio Gelfusa Junior, é urgente que se estabeleçam regras claras para as plataformas, de forma a conter a propagação de conteúdos nocivos. “É necessário que as plataformas tenham uma responsabilidade maior na remoção de conteúdos prejudiciais e não esperem sempre por uma decisão judicial. O tempo de resposta é fundamental para mitigar o impacto da desinformação e proteger a sociedade”, defende ele. 

As ações liberadas para julgamento em agosto têm como relatores os ministros Luiz Fux, Edson Fachin e Dias Toffoli. Entre os casos, a ação de Toffoli analisa a constitucionalidade do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014), que atualmente exige uma ordem judicial para que plataformas sejam responsabilizadas por atos ilícitos cometidos por seus usuários. Fux avalia se as empresas que hospedam sites devem ser obrigadas a remover conteúdos ofensivos sem intervenção da Justiça. Por fim, Fachin julga a legalidade do bloqueio do WhatsApp, um serviço essencial para milhões de brasileiros. 

Gelfusa destaca que a falta de regulação efetiva tem permitido que a desinformação se alastre com rapidez. “Sem mecanismos mais ágeis de controle, criamos um ambiente onde discursos de ódio e fake news circulam sem obstáculos, colocando em risco o bem-estar coletivo. A autorregulação falhou, e é hora de a Justiça dar um passo à frente.” 

O especialista ainda sugere que as plataformas implementem medidas específicas, como a regulamentação de um CPF por usuário e a exigência de documentação de comprovante de residência. No caso de empresas, seriam solicitados CNPJ e certidões – o que já acontece com os perfis do Google para confirmação e campanhas de publicidade. “As plataformas devem aperfeiçoar os canais para receber denúncias e, com uma curadoria profissional, remover conteúdos claramente mentirosos ou criminosos. Também é preciso reforçar o combate aos perfis que cometem crimes raciais, sexuais e contra crianças e idosos”, acrescenta. 

Equilíbrio com liberdade de expressão 

Apesar de defender uma maior responsabilização das plataformas, o especialista ressalta que a regulação precisa ser criteriosa. “A liberdade de expressão é um pilar democrático e precisa ser preservada. No entanto, não podemos confundir liberdade com permissão para disseminar mentiras e discursos prejudiciais. O julgamento do STF será essencial para encontrar esse ponto de equilíbrio.” 

Outro risco identificado por Gelfusa é que, sem uma orientação clara, as plataformas podem recorrer à autocensura, bloqueando preventivamente conteúdos legítimos por medo de sanções. “Uma regulação bem definida precisa estabelecer limites precisos e mecanismos de contestação, para que a moderação de conteúdo não seja usada de forma indiscriminada. O que queremos é segurança jurídica e transparência.” 

Antonio Gelfusa Junior também alerta para a necessidade de que qualquer decisão do STF seja acompanhada de critérios transparentes. “O julgamento em novembro é uma oportunidade de mostrar que a regulação pode ser eficiente sem ser opressiva. As plataformas devem ser responsabilizadas, mas dentro de um processo claro, pautado pelos princípios da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e da Lei de Acesso à Informação (LAI).” 

Por fim, ele destaca que uma regulação eficaz poderá contribuir para um ambiente online mais saudável e seguro. “A internet pode e deve ser um espaço de pluralidade e debate, mas isso só será possível com regras bem estabelecidas. As plataformas não podem ser neutras diante de abusos; elas precisam se posicionar e colaborar ativamente com a Justiça para evitar danos maiores.”

Redacao

Equipe de jornalistas do Jornal DC - Diário Carioca

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

About

Trees and plants within cities help mitigate air pollution by absorbing carbon dioxide and releasing oxygen. They also act as natural air filters, trapping dust and particulate matter

Authors

Newsletter

Most viewed

Don't Miss

Jair Bolsonaro - © Lula Marques/Agência Brasil

Jair Bolsonaro será transferido para Brasília em UTI aérea

Ex-presidente tem complicação intestinal e deixará…
A advogada Edith Christina Medeiros Freire quebrou a tornozeleira eletrônica. Foto: reprodução

Advogada e blogueiro pesos no 8/1 quebram tornozeleira

Tornozeleira quebrada põe Edith Freire e…