Estrutural

Racismo ambiental no Rio de Janeiro: população negra é mais vulnerável a desastres climáticos

Dados do Mapa das Desigualdades 2023 revelam que falta de saneamento, qualidade da água, moradias irregulares e áreas verdes afetam principalmente a população negra

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

A população negra da Região Metropolitana do Rio de Janeiro é mais vulnerável a desastres climáticos, como enchentes e ilhas de calor, devido a uma série de fatores, como falta de saneamento, qualidade da água, moradias irregulares e áreas verdes.

O que você precisa saber:

  • A população negra representa a maioria da população em domicílios irregulares, em áreas de risco e com acesso a saneamento básico precário.
  • A falta de áreas verdes agrava as doenças relacionadas ao calor, como insolação, desidratação e exaustão.
  • Apenas a cidade do Rio de Janeiro tem um plano de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

O Mapa das Desigualdades 2023, realizado pela Casa Fluminense, mostra que a população negra é a mais afetada por uma série de indicadores relacionados ao racismo ambiental.

Em relação ao saneamento básico, 12 dos 22 municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro têm coleta e tratamento de esgoto abaixo de 5%. Em alguns desses municípios, como Paracambi, Seropédica, Tanguá, Rio Bonito, Itaboraí, Japeri, Magé, o percentual de esgoto tratado é de 0,0%.

A falta de saneamento básico é uma das principais causas de enchentes, que são mais frequentes e intensas devido às mudanças climáticas. As enchentes levam a doenças transmitidas pela água, como dengue, leptospirose e zika.

A população negra também é a mais afetada pela falta de qualidade da água. De acordo com o Mapa das Desigualdades, 69% das coletas de água da Região Metropolitana do Rio de Janeiro foram classificadas como ruins ou muito ruins em 2021 e 2022.

A água poluída pode causar doenças intestinais, como diarreia, cólera e disenteria.

Além disso, a população negra é a maioria da população que vive em domicílios irregulares, em áreas de risco. Em Mesquita, por exemplo, que ocupa o segundo lugar em número de casas danificadas ou destruídas por enchentes, 80,6% da população é negra.

A falta de moradias adequadas coloca as pessoas negras em maior risco de serem atingidas por desastres climáticos.

Por fim, a população negra também é a mais afetada pela falta de áreas verdes. Em São João de Meriti, que tem o menor percentual de área verde por habitante da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 0m², 55,9% da população é negra.

As áreas verdes são importantes para amenizar o calor e melhorar a qualidade do ar. A falta de áreas verdes pode agravar as doenças relacionadas ao calor, como insolação, desidratação e exaustão.

Adaptação climática

Apenas a cidade do Rio de Janeiro tem um plano de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Os outros 21 municípios da Região Metropolitana não têm um plano específico para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.

A coordenadora da Casa Fluminense, Larissa Amorim, destaca a importância de criar uma secretaria só para enfrentar a emergência climática no estado do Rio de Janeiro.

“Quando você tem uma estrutura de uma secretaria, você pode ter um planejamento focado para isso, você pode desenvolver uma estratégia de fundo. Ou seja, de orçamento. Hoje o tamanho da crise climática exige isso”, afirma.

Propostas

Além da criação de uma secretaria específica para enfrentar a emergência climática, a Casa Fluminense também propõe outras ações para combater o racismo ambiental na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Entre as propostas estão:

  • Investimentos em saneamento básico, qualidade da água e moradias adequadas;
  • Criação de áreas verdes nas periferias;
  • Promoção de diálogo entre o poder público e a sociedade civil para o desenvolvimento de políticas públicas que atendam às necessidades da população negra.

Conclusão

Os dados apresentados pelo Mapa das Desigualdades 2023 revelam que o racismo ambiental é uma realidade cruel que afeta a população negra da Região Metropolitana do Rio de Janeiro de forma desproporcional.

O enfrentamento desse problema exige ações urgentes do poder público e da sociedade civil. É preciso investir em políticas públicas que promovam a igualdade racial e a justiça climática.

Com informações da Revista Fórum