No ano passado, poucas propostas legislativas contribuiram significativamente para uma maior igualdade de gêneros, segundo o balanço anual sobre as proposições legislativas no campo de interesses das mulheres, feito pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea). O estudo, “Mulheres e Resistência no Congresso Nacional – 2021”, foi apresentado nesta quarta-feira (13).
“Ao observarmos o conjunto dos projetos, chamou atenção o fato de que grande parte trata de ações pontuais ou tem semelhanças com propostas já em tramitação. Também parece haver pouco diálogo com o Executivo para garantir a implementação de políticas públicas”, diz o relatório.
Leia também: Acabou a corrupção? Escândalos, sigilo e interferência em investigações desmentem Bolsonaro
O levantamento indica que o tema "violência contra as mulheres" foi destaque em 2021, com 244 projetos apresentados, de um total de 555. No entanto, o Cfemea diz que esses textos, em sua grande maioria, são desarticulados de proposta de políticas públicas e pouco auxiliam efetivamente as pautas necessárias à população feminina.
“Esse foi um ano de retrocessos nas agendas mais estruturais. Embora não tenhamos nenhum grande retrocesso na legislação, na prática a vida das mulheres está pior. Cresceram a miséria e o desemprego, afetando principalmente mulheres negras. No entanto, o Congresso parece não estar preocupado com isso”, pontua o documento.
Saiba mais: De olho em eleição, Bolsonaro copia ações de Lula para estimular economia
Aborto
O balanço destaca as tentativas de mudança na legislação sobre o aborto, a maioria no sentido de restringir ainda mais os casos em que é permitido – anencefalia, risco de vida para a mulher ou em decorrência de violência sexual. Em 2021, foram 26 projetos tratando do tema.
Entre as propostas apresentadas no tema do aborto, o subtema “criminalização e punição” é o primeiro da lista, com 10 projetos no total. Seguido por “normas, portarias e notas”, com 6 propostas; “direito à vida desde a concepção”, com 5 projetos; “reafirmação do direito ao aborto”, com 4 projetos; e “agitação e propaganda contra o aborto”, com 1 proposta.
:: Muito além do Viagra: uso de recursos do SUS pelos militares disparou com Bolsonaro ::
“O quadro de propostas não é nada favorável às mulheres. São projetos que aumentam as penas do crime de aborto, criminalizam quem fizer ‘campanhas de incentivo ao aborto’, tornam obrigatória a apresentação de Boletim de Ocorrência para realização de aborto decorrente de violência sexual e proíbem qualquer forma de manipulação experimental, comercialização e descarte de embriões humanos”, aponta o relatório.
Em 2021, foram apresentados 77 projetos tratando de saúde das mulheres. O subtema gestação e parto se destaca, com 37 projetos noticiados, seguidos de saúde menstrual (23) e câncer de mama (11).
:: Militares controlavam perfis falsos que espalhavam mentiras sobre a Amazônia ::
Os projetos sobre gestação e parto tratam principalmente do direito a licenças (8), assistência pré e pós-natal (7) e prioridade para gestantes na vacinação contra a Covid-19 (7).
Perspectivas para 2022
Em ano de eleição, o documento prevê um cenário de problemas. “Haverá aumentos de casos de violência política, perseguição de mulheres jovens, de negras e LGBTI+s candidatas”, diz o texto.
O relatório também estima que, nos próximos anos, caso o país continue sendo governado por Jair Bolsonaro (PL), a invisibilidade das pautas autonomistas, que lutam pelo direito à vida das mulheres e da população negra e indígena, tende a crescer, colocando muitos desafios às minorias.
“Seguiremos atuando para que o aumento da representação feminina negra seja para candidatas compromissadas com as pautas feministas antirracistas e dos direitos humanos, que atuem em defesa da democracia e contra todas as formas de opressão”, conclui o relatório.
Edição: Rodrigo Durão Coelho
Sign Up For Daily Newsletter
Be keep up! Get the latest breaking news delivered straight to your inbox.
By signing up, you agree to our Terms of Use and acknowledge the data practices in our Privacy Policy. You may unsubscribe at any time.