Brasil Soberano

Intelectuais globais criticam Elon Musk e defendem soberania digital do Brasil

Carta aberta assinada por mais de 50 acadêmicos destaca o enfrentamento entre o Brasil e as big techs, com foco em Elon Musk e a plataforma X

Elon Musk é o proprietário do X. Foto: Reprodução
Elon Musk é o proprietário do X. Foto: Reprodução

São Paulo – Mais de 50 intelectuais de diversos países assinaram uma carta aberta em apoio ao Brasil e criticando o bilionário Elon Musk por sua postura frente à legislação brasileira. O manifesto, divulgado nesta terça-feira (17), expressa preocupação com o que os signatários consideram ataques à soberania digital do Brasil e alerta para o risco de empresas de tecnologia minarem democracias ao redor do mundo. A carta é assinada por nomes de peso, como os economistas Thomas Piketty e Gabriel Zucman, e pela filósofa Shoshana Zuboff. A iniciativa surge após o bloqueio temporário da rede social X no Brasil, devido à recusa em cumprir decisões judiciais.

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Resumo da Notícia

  • Elon Musk é criticado por acadêmicos em carta aberta que defende a soberania digital do Brasil.
  • O documento alerta sobre o controle das big techs e o impacto em democracias globais.
  • O bloqueio do X no Brasil é citado como exemplo de resistência à regulação local.

Big Techs e o Conflito com a Soberania Digital

O manifesto, assinado por intelectuais de países como Estados Unidos, França e Argentina, denuncia as grandes empresas de tecnologia por atuarem como “governantes” no mundo digital, sem respeitar as soberanias nacionais. O caso brasileiro, que envolve o bloqueio da plataforma X, pertencente a Elon Musk, é mencionado como exemplo de um conflito crescente entre nações soberanas e grandes corporações de tecnologia.

“As big techs operam como governantes, decidindo o que deve ser moderado e promovido em suas plataformas”, diz a carta.

A carta também faz críticas às ações de Musk e de outros líderes tecnológicos, acusando-os de apoiar movimentos de extrema-direita que ameaçam a democracia.


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Apoio Internacional ao Brasil

Os signatários pedem ao governo brasileiro que mantenha firmeza na sua agenda digital, que inclui o desenvolvimento de uma infraestrutura tecnológica própria e independente. A carta também conclama a ONU e outros governos a apoiarem o Brasil em sua luta por soberania tecnológica, defendendo um espaço digital democrático e livre da dominação das big techs.

“Todos aqueles que defendem valores democráticos devem apoiar o Brasil em sua busca pela soberania digital”, afirmam os intelectuais.

Leia a carta na integra

“Contra o Ataque das Big Tech às Soberanias Digitais

Nós, os signatários, desejamos expressar nossa profunda preocupação em relação aos ataques em curso das empresas Big Tech e seus aliados à soberania digital do Brasil. A disputa do Brasil com Elon Musk é apenas o mais recente exemplo de um esforço mais amplo para restringir a capacidade de nações soberanas de definir uma agenda de desenvolvimento digital livre do controle de megacorporações sediadas nos EUA.

No final de agosto, o Supremo Tribunal Brasileiro baniu o X do ciberespaço brasileiro por não cumprir decisões judiciais, exigindo a suspensão de contas que incitaram extremistas da extrema direita a participar de tumultos e ocupar as sedes do Legislativo, Judiciário e Executivo em 8 de janeiro de 2023. Posteriormente, o presidente Lula da Silva deixou claro a intenção do governo brasileiro de buscar independência digital: reduzir a dependência do país de entidades estrangeiras para dados, capacidades de IA e infraestrutura digital e promover o desenvolvimento de ecossistemas tecnológicos locais. De acordo com esses objetivos, o Estado brasileiro também pretende forçar as empresas de big tech a pagar impostos justos, cumprir as leis locais e ser responsabilizadas pelas externalidades sociais de seus modelos de negócios, que frequentemente promovem violência e desigualdade.

Esses esforços têm sido alvo de ataques do proprietário da X e dos líderes de extrema direita, que reclamam sobre democracia e liberdade de expressão. Mas justamente porque o espaço digital carece de acordos regulatórios internacionais e democraticamente decididos, as grandes empresas de tecnologia operam como governantes, determinando o que deve ser moderado e promovido em suas plataformas.

Além disso, o X e outras empresas começaram a se organizar, juntamente com seus aliados dentro e fora do país, para minar iniciativas que visam a autonomia tecnológica do Brasil. Mais do que advertir o Brasil, suas ações enviam uma mensagem preocupante para o mundo: que países democráticos que buscam independência da dominação das big techs correm o risco de ter suas democracias perturbadas, com algumas big techs apoiando movimentos e partidos de extrema direita.

O caso brasileiro se tornou a principal frente no conflito global em evolução entre as grandes corporações de tecnologia e aqueles que buscam construir um espaço digital democrático e centrado nas pessoas, com foco no desenvolvimento social e econômico.

As empresas de tecnologia não apenas controlam o mundo digital, mas também fazem lobby e operam contra a capacidade do setor público de criar e manter uma agenda digital independente baseada em valores, necessidades e aspirações locais. Quando seus interesses financeiros estão em jogo, elas trabalham de bom grado com governos autoritários. O que precisamos é de espaço digital suficiente para que os Estados possam direcionar as tecnologias colocando as pessoas e o planeta à frente dos lucros privados ou do controle unilateral do Estado.

Todos aqueles que defendem valores democráticos devem apoiar o Brasil em sua busca pela soberania digital. Exigimos que as big techs cessem suas tentativas de sabotar as iniciativas do Brasil voltadas para a construção de capacidades independentes em inteligência artificial, infraestrutura pública digital, gestão de dados e tecnologia em nuvem. Esses ataques minam não apenas os direitos dos cidadãos brasileiros, mas também as aspirações mais amplas de cada nação democrática de alcançar a soberania tecnológica.

Também pedimos ao governo do Brasil que seja firme na implementação de sua agenda digital e denuncie as pressões contra ela. O sistema da ONU e os governos ao redor do mundo devem apoiar esses esforços. Este é um momento crucial para o mundo. Uma abordagem independente para recuperar a soberania digital e o controle sobre nossa esfera digital pública não pode esperar. Também há uma necessidade urgente de desenvolver, dentro do quadro da ONU, os princípios básicos de regulação transnacional para acessar e usar serviços digitais, promovendo ecossistemas digitais que coloquem as pessoas e o planeta à frente dos lucros, para que esse campo de provas das Big Tech não se torne prática comum em outros territórios.”

Perguntas Frequentes sobre a Carta Aberta e a Soberania Digital

O que motivou a carta aberta contra Elon Musk?

A carta foi motivada pela recusa da plataforma X (antigo Twitter), de propriedade de Elon Musk, em cumprir as leis brasileiras, além de críticas mais amplas sobre o controle das big techs no espaço digital.

Quem são os principais signatários da carta?

Entre os signatários estão o economista Thomas Piketty, a filósofa Shoshana Zuboff e o ex-ministro argentino Martín Guzmán, além de outros intelectuais de renome global.

O que a carta pede ao Brasil?

Os acadêmicos pedem que o Brasil seja firme na implementação de sua agenda digital, promovendo uma infraestrutura independente das big techs e resistindo a pressões externas.

Qual o impacto das big techs nas democracias?

A carta argumenta que as big techs não apenas controlam o mundo digital, mas também fazem lobby contra governos democráticos, muitas vezes apoiando regimes autoritários quando seus interesses estão em jogo.