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Rio de Janeiro — Uma mulher torturada na ditadura militar brasileira virou cineasta. E não qualquer uma. Lucia Murat, ex-presa política, jornalista, diretora de ficção e documentário, é hoje o nome com o maior número de longas-metragens da América Latina.

Seus 65 filmes expõem feridas nacionais que muitos tentam esconder: a barbárie do regime militar, a desigualdade crônica, o racismo estrutural, a violência contra as mulheres e o apagamento dos povos originários.

Agora, parte dessa trajetória ganha tela grande. De 28 de maio a 23 de junho, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro sedia a mostra “Cinema de Resistência: um olhar sobre o Brasil invisível”, com 34 filmes de Murat — entre ficções, documentários e experimentações audiovisuais — além de quatro debates temáticos gratuitos.

Mais que homenagem, o evento é um antídoto cinematográfico contra a amnésia política. Em tempos de revisionismo e autoritarismo em nova embalagem, a obra de Lucia Murat ressurge como um lembrete contundente: não há futuro justo sem memória do passado cruel.


Ditadura, gênero e território: o cinema como trincheira

O filme de abertura da mostra será o icônico “Que bom te ver viva” (1989), obra semidocumental em que ex-presas políticas relatam as torturas sofridas no regime militar, misturando depoimentos reais com cenas ficcionais. Na sequência, títulos como “O Caso Euclides da Cunha”, “Maré, nossa história de amor”, “Praça Paris”, “O Mensageiro” e “A Nação que não esperou por Deus” mostram como Murat nunca se esquivou de tensionar temas como violência de Estado, favelização, misoginia, fanatismo e genocídio indígena.

CCBB Rio | Mostra gratuita Cinema de Resistência | Lucia Murat
Lucia Murat

“Lucia Murat faz um cinema que recusa a passividade. Seu olhar não é antropológico — é político. Ela aponta os culpados, expõe as estruturas e rompe com a estética da conciliação”, define o curador Carlos Alberto Mattos, crítico e pesquisador de cinema.

A mostra inclui ainda debates gratuitos, sempre às terças, com temas como “Ditadura e memória”, “Feminismo e resistência”, “Favelas e invisibilidade” e “Povos originários e genocídio”, todos com a presença de convidadas como a filósofa Djamila Ribeiro, a jornalista Eliane Brum e lideranças indígenas.


Um cinema que sangra — e cura

Presente em diversos festivais internacionais e premiada em Berlim, Havana, Gramado e Brasília, Murat nunca filmou para agradar plateias distraídas. Seus roteiros são declarações de guerra à anestesia nacional. E sua câmera, uma aliada das vozes silenciadas.

“A resistência de Lucia Murat é uma forma de cura coletiva. Ela nos lembra que não basta lembrar — é preciso lembrar do lado certo da história”, resume a pesquisadora Renata Pinheiro, do Fórum Itinerante de Cinema (FICINE), parceiro institucional da mostra.

O evento é gratuito, com retirada de ingressos pela plataforma Eventim ou presencialmente no CCBB RJ. Após a temporada no Rio, a mostra segue para São Paulo, entre 26 de junho e 22 de julho.


O Carioca esclarece

Quem é Lucia Murat e por que ela é tão importante?
Lucia Murat é cineasta, ex-jornalista e ex-presa política. Sua obra é reconhecida internacionalmente por tratar, com profundidade e indignação, temas como tortura, opressão e invisibilidade social.

Quais os destaques da mostra “Cinema de Resistência”?
São 34 filmes de Murat, incluindo clássicos como “Que bom te ver viva”, quatro debates temáticos e sessões gratuitas no CCBB RJ até 23 de junho.

Por que resgatar a ditadura militar no cinema hoje?
Porque o negacionismo histórico avança. Lembrar da ditadura é lembrar que censura, tortura e desaparecimentos foram crimes de Estado — e não “excessos” de um regime que “salvou” o país, como defendem bolsonaristas e revisionistas.

Como a mostra dialoga com os direitos humanos?
Os filmes de Murat expõem as violações sofridas por mulheres, pobres, indígenas e favelados, defendendo a memória como arma política e o cinema como território de resistência.

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JR Vital - Diário Carioca

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.

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