30 de maio de 2025, Uberlândia (MG) — A hipocrisia moralista da extrema-direita bolsonarista voltou a tropeçar na realidade. Glaycon Raniere de Oliveira Fernandes, primo direto do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), foi preso em flagrante na última semana por tráfico de drogas em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, com um carregamento de 30 quilos de maconha e quatro gramas de cocaína. A operação foi conduzida pela Polícia Militar durante uma abordagem de rotina, mas expôs muito mais do que um simples crime comum: revelou os vínculos nada republicanos entre o tráfico e o clã político-religioso que prega a moral e os bons costumes enquanto financia sua expansão com recursos públicos.
Do púlpito às prisões
A detenção de Glaycon Fernandes escancara o que muitos mineiros já suspeitavam: por trás do discurso ultraconservador de Nikolas Ferreira, há uma estrutura familiar enraizada em práticas ilegais e interesses eleitoreiros. Glaycon está detido no Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia, onde permanece sob custódia enquanto a investigação avança.
O mais preocupante, no entanto, não é apenas a prisão em si, mas os laços diretos que esse membro da família mantém com os bastidores eleitorais e financeiros do bolsonarismo mineiro.

Dinheiro público e candidaturas familiares
O pai do preso, Enéas Fernandes, é irmão da mãe de Nikolas e também figura conhecida na política local. Em 2024, disputou a prefeitura de Nova Serrana, no centro-oeste de Minas Gerais, com apoio ostensivo de Nikolas Ferreira, do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Michelle Bolsonaro. O palanque estava completo — e carimbado pelo PL, partido que hoje concentra uma bancada com um pé no púlpito e outro no Código Penal.
Documentos obtidos e confirmados por veículos como o ICL Notícias mostram que Nikolas destinou R$ 1,5 milhão em emendas parlamentares para Nova Serrana, reduto eleitoral de Enéas, mesmo antes da campanha. Os recursos públicos serviram de trampolim político para a tentativa frustrada do tio de Nikolas de assumir o Executivo local. Ele foi derrotado nas urnas, obtendo 38,48% dos votos contra os 60,83% do candidato eleito, Fábio Avelar (Avante-MG).
A face oculta do moralismo bolsonarista
O caso expõe um padrão recorrente nos círculos da extrema-direita brasileira: discursos inflamados contra o “crime organizado”, o “tráfico de drogas” e a “corrupção da juventude” que convivem harmonicamente com práticas familiares enraizadas na mesma lógica de dominação territorial, uso do aparelho estatal e conivência com o crime.
É sintomático que, enquanto Nikolas Ferreira gasta energia atacando professores, defendendo pautas ultraconservadoras e promovendo o negacionismo em Brasília, sua própria base familiar esteja envolvida em ações criminosas que minam as mesmas estruturas que ele afirma defender.
A prisão de Glaycon Fernandes não é um acidente isolado. Ela faz parte de um sistema de poder em que laços familiares, dinheiro público e crime se confundem, e onde a retórica moral serve apenas como biombo para interesses espúrios.

Silêncio cúmplice da bancada evangélica
Até o momento, Nikolas Ferreira não se pronunciou sobre a prisão do primo. O silêncio se repete entre outros parlamentares bolsonaristas e membros da chamada bancada evangélica, que costuma reagir com indignação seletiva apenas quando os escândalos envolvem seus adversários políticos.
Não se ouviu um único grito de “família, pátria e Deus” após a apreensão dos 30 quilos de maconha. Nenhum pastor inflamado tomou o púlpito para condenar o envolvimento da família Ferreira com o tráfico. Não houve carreata, indignação moral nem jejum coletivo.
Comissão de Ética ignora vínculos comprometedores
No Congresso Nacional, a prisão do parente do deputado bolsonarista também passou em branco. Nenhum pedido de investigação ou manifestação de preocupação partiu da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, tampouco dos líderes do PL, que seguem tratando seus quadros como se estivessem acima da lei — ou, ao menos, imunes ao escrutínio público quando os escândalos brotam de seus próprios núcleos familiares.
Impunidade e blindagem institucional
O caso Glaycon não é exceção. Ele é o reflexo de um modelo de poder assentado sobre privilégios, blindagem institucional e cinismo político. O bolsonarismo transformou a política nacional num palco de autopromoção, onde a criminalização é seletiva, e a lei só se aplica aos inimigos ideológicos.
Quando as digitais do crime estão no núcleo duro da base bolsonarista, a estratégia é o silêncio, a negação e o ataque à imprensa. Um padrão tão previsível quanto perigoso.
A responsabilidade da imprensa e da sociedade civil
Diante da complacência institucional, cabe à imprensa independente e à sociedade civil organizada fiscalizar, denunciar e expor esses vínculos. Não se trata de um caso policial isolado, mas de um sintoma de degradação moral e institucional da extrema-direita brasileira, que usa os valores cristãos como escudo enquanto favorece os próprios.
Enquanto isso, o Brasil real — aquele que não cabe nos vídeos de TikTok de Nikolas Ferreira — paga o preço da corrupção disfarçada de religiosidade.