31 de maio de 2025, Brasília (DF) — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou neste sábado um vídeo em que conversa por telefone com o ator Wagner Moura, vencedor do prêmio de Melhor Interpretação Masculina no Festival de Cannes, pelo filme O Agente Secreto. É a primeira vez que um brasileiro conquista a honraria individual no tradicional festival francês. Mais que uma saudação pessoal, o gesto de Lula marca uma reafirmação simbólica e política: a cultura voltou a ter lugar central no projeto de país defendido pelo governo federal.
“Wagner, querido, você pode ter certeza de que você é um orgulho desse país, cara”, afirmou o presidente, ao parabenizar o ator baiano, conhecido não apenas pelo talento, mas por sua postura política crítica e combativa. A conversa foi tornada pública nas redes sociais de Lula, revelando não apenas a emoção do momento, mas uma diretriz de fundo: a reconstrução das políticas públicas de cultura no Brasil após o desmonte promovido nos anos do bolsonarismo.
Cinema como soberania simbólica
Durante o diálogo, Wagner Moura fez questão de sublinhar a importância do retorno do Estado ao fomento audiovisual. “Desde o seu primeiro governo, o cinema sempre teve espaço. Eu me lembro que você fazia sessões de cinema. Só eu fui duas vezes a Brasília”, disse, rememorando os anos em que o Ministério da Cultura era fortalecido, políticas de editais eram contínuas e a produção audiovisual brasileira alcançava projeção internacional com apoio institucional.
A fala do ator contrasta diretamente com o período de ataque sistemático à cultura entre 2019 e 2022, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados transformaram artistas em inimigos públicos, desmontaram estruturas ministeriais e sufocaram financeiramente a classe artística — especialmente aquela que ousava pensar o país fora das estreitas bordas do fundamentalismo e do ultraliberalismo.
Descentralização e cultura como direito
Mais do que celebrar uma conquista individual, Lula usou a ligação para reafirmar um compromisso coletivo: descentralizar e enraizar a cultura nos territórios. “A gente tem que criar núcleos de cultura em cada município. Transformar isso numa coisa muito forte. Criar instrumentos da sociedade para fiscalizar a execução dos recursos. Porque assim a gente vai colocar a cultura como algo perene nesse país”, afirmou o presidente.
A proposta, ainda sem detalhamento institucional, ecoa iniciativas anteriores como os Pontos de Cultura e sinaliza uma retomada mais ousada, no sentido de tornar a cultura um eixo estruturante do desenvolvimento — não apenas como entretenimento ou identidade, mas como cidadania e soberania simbólica.
Wagner Moura respondeu emocionado. “Você não sabe a alegria que dá ouvir você falar assim de cultura. É lindo, emociona e faz a gente ter certeza de que está indo para o caminho certo.”
Diálogo como resistência democrática
A conversa entre o presidente e o ator pode parecer, à primeira vista, uma mera interação pública de reconhecimento. Mas num país em que a cultura foi deliberadamente atacada por uma política de ódio, o gesto é, em si, um sinal de resistência democrática. A aliança entre Estado e criadores de cultura, rompida à força pela extrema-direita, está sendo cuidadosamente reconstruída com sinais como este — simbólicos, mas não vazios.
Mais do que homenagear um ator, Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que o cinema, o teatro, a música, a literatura e todas as linguagens artísticas voltarão a ter espaço no projeto de Nação. E mais: que o Brasil não quer ser apenas consumidor de cultura estrangeira, mas produtor e exportador de narrativas próprias.
A vitória de Wagner Moura em Cannes não é, portanto, um feito isolado. É um chamado para que o país volte a olhar com ambição para o potencial transformador de sua produção simbólica. A partir do reconhecimento internacional, acende-se uma fagulha de esperança: de que a cultura brasileira voltará a ocupar o centro do debate público — e não mais como alvo, mas como força criativa e estruturante.
