Nikolas Ferreira, Jorge Seif, Michelle Bolsonaro e Damares Alves. Foto: Fotomontagem

Rio de Janeiro, 1º de junho de 2025 – A retórica moralista da extrema-direita brasileira encontrou mais um abismo entre palavra e prática. No mesmo momento em que parlamentares bolsonaristas vociferam contra a descriminalização das drogas e encenam cruzadas públicas em nome da “família tradicional”, múltiplos casos de parentes diretos envolvidos com tráfico de entorpecentes vieram à tona — revelando que o discurso contra o crime serve mais à propaganda do que à coerência ética.

Na última semana, Glaycon Fernandes, primo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), foi preso em Uberlândia, Minas Gerais, transportando 30 quilos de maconha no porta-malas de um carro. Glaycon é filho de Enéas Fernandes, ex-candidato a prefeito de Nova Serrana (MG) pelo mesmo Partido Liberal (PL) que abriga o deputado. O episódio não é isolado: a constelação bolsonarista já coleciona diversos vínculos familiares com o narcotráfico, sempre silenciados ou minimizados pelas vozes mais estridentes do moralismo institucional.

A JS Pescados e os 322 kg de maconha

O senador Jorge Seif (PL-SC), conhecido tanto pelas contradições públicas quanto por seus devaneios ultraconservadores, tem um histórico ainda mais delicado. Em maio de 2024, a Polícia Militar encontrou 47 kg de haxixe em um galpão empresarial que abriga a JS Pescados, empresa da família de Seif em Itajaí (SC). Apenas um ano antes, em março de 2023, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) havia apreendido 322 kg de maconha em um caminhão pertencente à J.S Manipulação de Pescados Ltda, da qual o pai do senador é proprietário.

Seif alegou que o caminhão fora vendido em setembro de 2022, mas manteve-se sem explicações para a reincidência do envolvimento empresarial em grandes apreensões. Ainda assim, o senador insiste em repetir discursos inflamados no Senado: “Nenhum país que avançou na descriminalização das drogas teve êxito. Só trouxe mais criminalidade, suicídio e acidentes de carro”, declarou em plenário. Faltou apenas mencionar que no Brasil de sua família, o tráfico está na garagem.

Damares Alves e a aeronave com 290 kg de maconha

Outra expoente do bolsonarismo moralista, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), também vê o tráfico bater à porta de casa — ou ao menos do hangar. Em maio de 2023, a Polícia Federal interceptou uma aeronave com 290 kg de maconha no Aeroporto Internacional de Belém (PA). O avião pertencia à Igreja do Evangelho Quadrangular e estava sob a responsabilidade de Josué Bengtson, tio da senadora, ex-deputado federal e seu mentor político.

No voo, também estava Paulo Bengtson, filho de Josué e membro do governo do estado do Pará. Apesar da gravidade dos fatos, Damares não se manifestou publicamente sobre o episódio. Ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo de Jair Bolsonaro, a senadora construiu sua carreira acusando o “progressismo” de ser permissivo com o crime. Faltou apenas olhar para os bastidores da própria parentela evangélica.

Michelle Bolsonaro: a matriarca no banco dos réus

No clã Bolsonaro, a sombra do tráfico não é menos presente. Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama e hoje figura central do bolsonarismo “do bem”, teve sua avó, Maria Aparecida Firmo Ferreira, presa por tráfico de cocaína em agosto de 2019, aos 55 anos. O caso correu na 1ª Vara de Entorpecentes e Contravenções Penais do Distrito Federal, que registrou ainda tentativas de suborno a agentes penitenciários.

Maria Aparecida foi condenada e cumpriu pena em uma unidade prisional no Gama (DF), tendo conseguido liberdade condicional após dois anos e dois meses. A mãe de Michelle, Maria das Graças, também foi alvo de investigações por falsidade ideológica, mantendo dois registros civis — um verdadeiro, outro falso. Com este último, ela foi autora de uma agressão a pedradas contra um senhor de 62 anos, em 2007.

Hipocrisia como método

A recorrência de vínculos familiares entre políticos bolsonaristas e o tráfico de drogas não se traduz em um movimento autocrítico ou uma revisão de posturas. Pelo contrário: os envolvidos mantêm-se em posturas de ataque contra qualquer política que proponha uma abordagem racional, de saúde pública, sobre o tema. Enquanto isso, nas bordas da legalidade e da hipocrisia, multiplicam-se os indícios de que o narcotráfico não é apenas uma chaga do “inimigo externo” — mas, por vezes, uma presença silenciosa no churrasco de domingo.

O Brasil ainda aguarda uma CPI sobre essas conexões familiares incômodas. Por enquanto, o silêncio cúmplice é a regra entre os pares. E o moralismo, como sempre, continua a ser um disfarce conveniente.

Com informações do DCM

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JR Vital - Diário Carioca

JR Vital

JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.

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