quarta-feira, setembro 24, 2025
22 C
Rio de Janeiro
InícioColunasDC-BrasíliaHugo Motta tira a máscara e ataca governo Lula com discurso alinhado ao bolsonarismo

Hugo Motta tira a máscara e ataca governo Lula com discurso alinhado ao bolsonarismo

Brasília, 17 de junho de 2025 — O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) escancarou, nesta semana, seu alinhamento com a ala bolsonarista e setores do mercado financeiro, adotando um discurso afinado com a elite econômica para pressionar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Usando inclusive a Agência Câmara como plataforma, Motta reforçou a ofensiva contra a política econômica do ministro Fernando Haddad, enquanto articula pautas-bomba que podem desestabilizar as contas públicas.

O estopim foi a aprovação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 314/25, que suspende a alta do IOF sobre operações de câmbio. A proposta, de autoria do líder bolsonarista Zucco (PL-RS), contou com apoio decisivo de Motta, que rompeu um acordo anterior com o governo para votar contra o aumento do imposto.

Durante a tramitação, o deputado ironizou Haddad nas redes sociais, distorcendo uma metáfora utilizada pelo ministro para defender justiça tributária. “Toda essa discussão sobre as contas não é sobre quem mora na cobertura ou no andar de baixo. É sobre todos nós que moramos no mesmo prédio”, publicou, comemorando a aprovação do projeto que favorece diretamente setores rentistas.

Além da provocação pública, Motta utilizou a Agência Câmara para enviar um recado político ao Planalto. “O governo está entendendo esta mensagem. Será simbólica pelo sentimento da Casa e vamos aguardar os próximos passos. A Câmara vai continuar defendendo o que é melhor para o Brasil”, declarou, elevando o tom de confronto.

Pautas-bomba no radar

Apesar de repetir discursos de austeridade e cobrança por corte de gastos ao Executivo, Motta trabalha nos bastidores para aprovar medidas que elevam os custos do próprio Estado. Na semana passada, apresentou um projeto que permite o acúmulo de aposentadorias parlamentares com cargos eletivos estaduais e municipais, além da criação de uma gratificação de fim de ano para ex-parlamentares aposentados e pensionistas.

Hoje, um deputado federal recebe R$ 46.366,19 mensais. A proposta patrocinada por Motta ampliaria ainda mais os privilégios da classe política.

O parlamentar também articula junto ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a tramitação do projeto que isenta do Imposto de Renda (IRPF) quem ganha até R$ 5 mil, sem apresentar uma solução efetiva para compensar a renúncia fiscal. A proposta prevê, inicialmente, uma elevação da alíquota para quem recebe mais de R$ 50 mil, mas há pressão para rever esse ponto — o que poderia gerar um rombo fiscal expressivo e impactar diretamente a capacidade de financiamento do governo federal.

A face real de Hugo Motta

Natural de João Pessoa, na Paraíba, Hugo Motta é herdeiro de uma dinastia política que domina há décadas a cidade de Patos, conhecida como “capital do sertão”. O clã Motta-Wanderley comanda o município desde 1956.

Seu pai, Nabor Wanderley, atual prefeito de Patos, tem histórico de condenações por improbidade administrativa e responde a denúncias do Ministério Público por suposto recebimento de propina em contratos públicos.

O próprio Hugo construiu sua carreira amparado nas relações do centrão fisiológico. Foi o deputado federal mais jovem da história ao ser eleito em 2010, então pelo MDB, aos 21 anos. Na Câmara, tornou-se rapidamente aliado de Eduardo Cunha, peça central do golpe parlamentar de 2016 contra Dilma Rousseff (PT).

Caso Kroll e a relação com o golpe

Em 2015, Motta presidiu a CPI da Petrobras, que ficou marcada pelo episódio da contratação da consultoria Kroll por R$ 1,1 milhão. O relatório entregue pela empresa, segundo denúncias formalizadas à Procuradoria-Geral da República (PGR), se resumia a recortes de jornais — evidência do uso político da comissão para desgastar o governo e fortalecer o golpe em curso.

A CPI terminou sem indiciamentos relevantes, mas foi usada para alimentar narrativas midiáticas e sustentar a ofensiva que culminou no afastamento de Dilma Rousseff.

Motta votou a favor do impeachment e, posteriormente, contra a abertura de investigações sobre Michel Temer, de quem também foi aliado.

Da tropa de Cunha ao bolsonarismo

Após a prisão de Cunha, Motta migrou sua influência para a órbita de Ciro Nogueira (PP), ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro. Foi relator da PEC do Orçamento de Guerra, que abriu espaço para manobras fiscais durante a pandemia e abasteceu o esquema do orçamento secreto.

Entre 2020 e 2021, destinou mais de R$ 28 milhões em emendas parlamentares para Patos, impulsionando a campanha do próprio pai.

Hoje, Motta se firma como um dos principais operadores do Centrão, misturando discursos de austeridade com práticas que aumentam o custo da máquina pública — uma contradição que revela a essência do grupo político que representa.

Parimatch Cassino online
JR Vital
JR Vitalhttps://www.diariocarioca.com/
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.

Relacionadas

Paciência de Alcolumbre e Motta com chilique de bolsonaristas no Congresso está terminando

Presidentes da Câmara e do Senado veem ameaças como tentativa autoritária de impor agenda legislativa

Tornozeleira por Eduardo, prisão por domiciliar por Flávio: qual filho levará Bolsonaro à cadeia?

Brasília, 4 de agosto de 2025 — A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), determinada pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF), foi motivada por uma...

Congresso volta à ativa com pauta explosiva e clima de acerto de contas

De cassações ruidosas a mudanças no Imposto de Renda, passando pelo polêmico marco legal da inteligência artificial

STF retoma julgamentos com foco em golpe de Estado e caso Marielle

Sessões do segundo semestre incluem ação contra Bolsonaro, mudança na presidência e processo sobre assassinato da vereadora

Direita envergonhada, conhecida como Centrão, abandona Bolsonaro e pressiona por Tarcísio

Com tornozeleira e isolado, ex-presidente enfrenta debandada após tarifaço de Trump

Mais Notícias

Assuntos:

Mais Notícias