Brasília, 5 de julho de 2025 – A elite da República usou aviões da Força Aérea Brasileira para comparecer ao Festival de Parintins, no Amazonas, no último fim de semana. Entre os passageiros: Davi Alcolumbre, Luís Roberto Barroso, Hugo Motta, além de ministros e assessores. A justificativa: “agenda cultural”.
Festa com jatinho público
No Brasil onde o cidadão comum paga caro por passagens aéreas e enfrenta voos lotados, autoridades de alto escalão voam de jato da FAB para curtir festas juninas e eventos folclóricos. A última viagem de gala foi para Parintins, no Amazonas, com pouso estratégico no badalado Festival Folclórico.
Embarcaram no conforto da aeronave oficial o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o presidente da Câmara, Hugo Motta, entre outros. O voo saiu de Brasília na sexta-feira (27) e retornou no domingo (29), com 20 pessoas a bordo, segundo registros da FAB.
Justificativas frágeis, cultura de privilégios
Alcolumbre alegou “segurança”. Barroso, “encontro com o TJ do Amazonas”. Já Hugo Motta, cuja agenda oficial não registrou compromisso algum, preferiu o silêncio. O deputado apareceu nas redes sociais dizendo que foi “a convite” do ministro do Turismo, Celso Sabino – outro passageiro da comitiva.
O caso reacende o debate sobre o uso indiscriminado de bens públicos para fins privados ou políticos, sob pretextos como “valorização cultural” ou “apoio institucional”. A prática, embora respaldada por um decreto de 2020, é amplamente criticada por faltar com a transparência e esvaziar o princípio da moralidade pública.
FAB vira transporte festivo
Essa não foi a única viagem recente com ares de passeio. No dia 13 de junho, Hugo Motta e Alcolumbre já haviam usado avião da FAB para participar da abertura do São João de Petrolina, no Pernambuco, ao lado de João Campos, prefeito do Recife.
A aeronave ainda passou por Salvador e Campina Grande, entregando Motta em sua Paraíba natal – tudo bancado pelo erário. Em paralelo, o parlamentar atacava o governo Lula e o pacote fiscal, enquanto seguia seu roteiro junino com jatinho da União.
R$ 180 milhões em cultura ou vitrine eleitoral?
O Ministério do Turismo, também presente na comitiva, justificou a viagem como parte de um apoio institucional a Parintins, evento que injeta R$ 180 milhões na economia regional. Mas, como de praxe, o debate sobre incentivo cultural cede lugar à evidência de que festa, vaidade e influência política continuam sendo prioridades da elite institucional.
Se há mesmo interesse em apoiar cultura e desenvolvimento, onde estão os editais para artistas e produtores periféricos? Onde está o financiamento do transporte de comunidades ribeirinhas ao festival?
O Diário Carioca Esclarece
Quando é permitido o uso de aviões da FAB?
Desde o decreto de 2020, é autorizado em caso de segurança, emergência médica ou viagens a serviço. “Serviço”, no entanto, é termo vago.
Autoridades precisam comprovar a finalidade da viagem?
Em tese, sim. Mas na prática, os registros da FAB nem sempre coincidem com agendas oficiais, e raramente há investigação.
A viagem foi ilegal?
Legal não é sinônimo de legítimo. Ainda que não viole a letra da lei, o uso recorrente para compromissos pessoais fere o princípio da moralidade pública.
