Brasília, 17 de julho de 2025 — A Polícia Federal pediu ao STF a abertura de inquérito contra o senador Ciro Nogueira (PP-PI) por suspeitas de envolvimento com o empresário Fernando Oliveira Lima, dono da One Internet Group e investigado por lavagem de dinheiro no setor de apostas digitais.
Senador do Centrão na mira da PF
A Polícia Federal solicitou ao Supremo Tribunal Federal autorização para investigar o senador Ciro Nogueira, um dos pilares do Centrão e ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro. O pedido se baseia em documentos sigilosos da CPI das Bets e envolve uma série de movimentações financeiras consideradas suspeitas, entre o parlamentar, seu ex-assessor e o empresário Fernando Oliveira Lima, conhecido como Fernandin OIG.
A apuração foi revelada pela revista Piauí e repercutida por veículos nacionais. O inquérito, protocolado no final de maio, foi distribuído ao gabinete da ministra Cármen Lúcia e tramita sob sigilo. Procurado, o STF não confirmou nem negou a existência do processo, citando o caráter confidencial do caso.
Rota de dinheiro entre apostas, relógios e reembolsos
Segundo os relatórios da CPI, Fernandin transferiu R$ 625 mil ao ex-assessor de Ciro Nogueira. Parte desse valor — R$ 35 mil — foi repassada à conta pessoal do senador. Nogueira alegou que se tratava de reembolso por uma hospedagem na Itália. Já os R$ 625 mil seriam, supostamente, referentes à venda de um relógio de luxo.
A justificativa não convenceu os parlamentares da CPI, que identificaram no fluxo financeiro indícios de ocultação de origem ilícita e uso de contratos simulados para movimentar recursos provenientes de casas de apostas ilegais. Os dados foram enviados pela relatora Soraya Thronicke (Podemos-MS) à PGR e à Polícia Federal.
Viagens em jatinhos e blindagem no Congresso
A crise ganhou corpo após vir à tona uma viagem de Ciro Nogueira em jatinho particular do empresário investigado. O destino: Mônaco, para assistir ao Grande Prêmio de Fórmula 1. A revelação levou Soraya Thronicke a pedir a exclusão de Nogueira da CPI das Bets — o que não aconteceu.
Mesmo diante dos indícios, o relatório final da CPI, que pedia o indiciamento de influenciadores e empresários ligados ao setor de apostas, foi rejeitado por quatro votos. A blindagem partiu de parlamentares aliados ao bolsonarismo e ao Centrão: Angelo Coronel, Eduardo Gomes, Efraim Filho e Professora Dorinha.
Jogo do Tigrinho e lavagem digital
Em seu depoimento à CPI, Fernandin OIG negou ser o responsável pelo “Jogo do Tigrinho” no Brasil, mas admitiu que o setor é dominado por empresas clandestinas que manipulam os algoritmos em benefício próprio. Segundo dados do governo federal citados pela Piauí, existem hoje mais de 5,2 mil sites ilegais de apostas em operação no país.
O empresário se defendeu, prometeu entregar estudos técnicos e negou qualquer prática ilegal. Ainda assim, é apontado como figura central em uma rede que usa contratos digitais, publicidade e patrocínios como fachada para lavar dinheiro e financiar operações políticas.
Silêncio cúmplice e rastro financeiro
A Polícia Federal, o STF e o próprio senador Ciro Nogueira optaram pelo silêncio diante das denúncias. A estratégia do não pronunciamento repete o padrão de blindagem utilizado por políticos envolvidos em esquemas financeiros de alta complexidade.
A investigação — se autorizada — poderá escancarar os laços subterrâneos entre o mercado de apostas digitais, a política institucional e os fluxos internacionais de capital. A presença de Ciro Nogueira no centro da apuração reforça a tese de que o sistema de apostas é hoje um vetor de poder e corrupção com ramificações profundas no Congresso.
Perguntas e Respostas
Ciro Nogueira está sendo investigado?
A PF pediu ao STF a abertura de inquérito, com base na CPI das Bets. O caso corre sob sigilo.
Quem é Fernando Oliveira Lima, o Fernandin OIG?
Empresário dono da One Internet Group, investigado por lavar dinheiro com apostas digitais.
Qual a relação financeira entre eles?
Fernandin transferiu R$ 625 mil a um ex-assessor de Ciro, que repassou R$ 35 mil ao senador.
Ciro justificou o valor recebido?
Disse que foi reembolso por despesas de viagem, mas não apresentou provas públicas.
O que aconteceu com o relatório da CPI?
Foi rejeitado por maioria dos senadores da comissão, blindando investigados e empresários.
