Brasília, 18 de julho de 2025 — Horas após colocar tornozeleira eletrônica por ordem do Supremo Tribunal Federal, Jair Bolsonaro (PL) afirmou que se sente “humilhado” e voltou a se declarar vítima de perseguição judicial.
Princípios Intransigentes
Entre a tornozeleira e o silêncio imposto
A cena já não surpreende, mas escancara: um ex-presidente da República, agora monitorado por tornozeleira eletrônica, escoltado por policiais federais, proibido de falar com os próprios filhos e silenciado nas redes. Jair Bolsonaro encena sua própria via-crúcis — não como mártir da democracia, mas como protagonista de uma ofensiva contra o Estado Democrático de Direito. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, impôs as medidas com base na tentativa de golpe investigada desde 8 de janeiro de 2023. O ex-capitão nega tudo. Mas a narrativa, como sempre, não se sustenta no vazio.
Dólares no armário, pen drive no banheiro
A Polícia Federal apreendeu US$ 14 mil, R$ 8 mil em espécie e um pen drive — este último, no banheiro da residência de Bolsonaro. Questionado, o ex-mandatário respondeu com a habitual estratégia de esvaziamento: “Sempre guardei dólar em casa”. Em relação ao pen drive, declarou não ter “a menor ideia” do conteúdo ou origem. A desconexão proposital entre o que se encontra e o que se admite virou padrão bolsonarista: repete-se o jogo de desinformação como instrumento de sobrevivência política.
O delírio da fuga e a teatralização da vítima
“Jamais pensei em sair do Brasil ou ir para uma embaixada”, garantiu Bolsonaro, ao rebater acusações de que estaria articulando um plano de fuga internacional — especialmente com o filho Eduardo, que está nos Estados Unidos e teria pedido sanções contra o Brasil. A fala é contraditória: “sair do Brasil é a coisa mais fácil”, declarou na mesma entrevista. O jogo de palavras mistura provocação e vitimização, em estratégia ensaiada para manter vivo o fervor da militância radical e deslegitimar as ações do STF.
Suprema humilhação ou justiça tardia?
Bolsonaro repete à exaustão o termo “humilhação” para se referir à decisão que o obriga a permanecer em casa das 19h às 7h, usar tornozeleira e evitar qualquer contato com diplomatas, embaixadores, redes sociais, demais investigados e até com os próprios filhos. A retórica busca construir a imagem de um líder cristão perseguido pelo “sistema”. Mas a verdade é outra: ele é réu por tentativa de golpe de Estado e acusado de atuar para subverter a ordem democrática. O Supremo reage com rigor porque a democracia exige vigilância ativa — sobretudo diante de figuras públicas com histórico de incitação à violência e desinformação institucionalizada.
Da narrativa pessoal à omissão coletiva
As declarações do ex-presidente revelam uma estratégia bem conhecida: transformar ações judiciais legítimas em linchamento midiático, desqualificar instituições e alimentar o ressentimento autoritário de sua base. Ao reduzir uma operação do Estado de Direito a uma “suprema humilhação”, Bolsonaro tenta deslocar a narrativa do crime para o melodrama. Mas o cerco se fecha, e a democracia, ainda que ferida, não se curva ao delírio golpista.
Perguntas e Respostas
Bolsonaro está impedido de sair do país?
Ele não está formalmente impedido de deixar o país, mas está sob monitoramento com tornozeleira e restrição de horário de circulação.
Quais as restrições impostas pelo STF?
Ele deve permanecer em casa das 19h às 7h, não pode usar redes sociais, nem se comunicar com diplomatas ou outros investigados.
Por que Eduardo Bolsonaro foi incluído nas restrições?
Eduardo está nos EUA e teria atuado em articulações por sanções contra o Brasil, o que motivou a proibição de contato com o pai.
O que foi apreendido na casa de Bolsonaro?
US$ 14 mil, R$ 8 mil em espécie e um pen drive encontrado no banheiro.
Bolsonaro pode se candidatar novamente?
Com as investigações em andamento e possível condenação, sua inelegibilidade pode ser reforçada. A decisão cabe à Justiça Eleitoral.
