Brasília, 24 de julho de 2025 — Mesmo com os passaportes bloqueados por ordem do Supremo Tribunal Federal, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) deixou o país rumo aos Estados Unidos no dia 23, em voo que partiu de Manaus para Miami.
Viagem clandestina com carimbo oficial
Investigado por envolvimento em tentativa de golpe de Estado e por ameaças ao ministro Alexandre de Moraes, o senador Marcos do Val conseguiu burlar um bloqueio judicial imposto desde março de 2025. A entrada em território americano foi confirmada por autoridades alfandegárias dos Estados Unidos e reconhecida publicamente pelo próprio parlamentar em entrevista ao portal UOL.
A brecha usada para deixar o país foi o passaporte diplomático — documento que, segundo o senador, continuava em sua posse apesar da decisão do STF e da operação da Polícia Federal (PF) em 2023 que apreendeu o passaporte comum. Durante o voo, tripulantes teriam o reconhecido e até o cumprimentado.
Em vídeo publicado em suas redes, Do Val ironizou a situação: “Se tinha um bloqueio, como é que eu saí? Tem que perguntar para a Polícia Federal”, disse, negando qualquer ilegalidade.
Moraes ignorado
As autoridades responsáveis pela execução da decisão negam responsabilidade pela fuga. O Itamaraty declarou desconhecer a viagem e repassou a atribuição à PF. A Polícia Federal, por sua vez, confirmou que o passaporte comum de Do Val foi de fato bloqueado desde agosto de 2024, mas o diplomático permaneceu com ele. A situação expõe o descontrole entre instituições que deveriam zelar pela soberania da Justiça brasileira.
A decisão de Moraes, que bloqueava ambos os documentos, foi ignorada por agentes que não impediram a saída. A ausência de controle sobre documentos diplomáticos levanta questões sobre privilégios e brechas no sistema que favorecem parlamentares investigados.
Golpismo e delírios
Marcos do Val é alvo de inquérito sob sigilo no Supremo Tribunal Federal por crimes como organização criminosa, tentativa de golpe de Estado, divulgação de documentos sigilosos e associação para o crime. Desde junho de 2023, após afirmar que Jair Bolsonaro o teria cooptado para um plano golpista, Do Val passou a acumular investigações.
Na operação da PF que se seguiu à denúncia, foram apreendidos seus dispositivos eletrônicos e uma pistola Glock, ainda retida por ordem do STF. Desde então, o senador mergulhou em uma espiral pública de vídeos delirantes, ataques alucinados a Alexandre de Moraes e alegações paranoicas de perseguição institucional.
“Acabou Alexandre”, diz senador em fuga
Em declarações recentes, Do Val afirmou que sua viagem “comprova que Alexandre está derrotado” e deslegitimou a autoridade do STF. A retórica de enfrentamento vem acompanhada da tentativa de validar juridicamente sua conduta com documentos sem valor legal, entre eles um ofício de direitos humanos da Suíça, citado por ele como suposta prova de que foi vítima de abuso de autoridade.
Os PDFs enviados à imprensa não têm reconhecimento oficial. Nenhum deles contesta de maneira efetiva a decisão de Moraes. O gesto de recorrer a entidades internacionais sem jurisdição no Brasil revela a estratégia discursiva de se vitimizar diante do cerco jurídico nacional.
P&R – Marcos do Val fugiu do Brasil?
Marcos do Val está nos Estados Unidos?
Sim. O senador embarcou no dia 23 de julho em voo de Manaus para Miami, apesar de ordem judicial que bloqueava seus passaportes.
Qual passaporte ele usou?
O diplomático. Mesmo bloqueado judicialmente, ele não foi apreendido pela Polícia Federal.
O STF autorizou a viagem?
Não. A decisão do ministro Alexandre de Moraes bloqueava os dois documentos de viagem do senador desde março.
A Polícia Federal sabia?
Segundo fontes da própria PF, o passaporte comum estava bloqueado no sistema, mas o diplomático permaneceu com ele. Nenhuma ação foi tomada para impedir o embarque.
Do Val cometeu crime ao sair do país?
Embora alegue estar “dentro da lei”, o descumprimento de decisão judicial e a utilização de documento bloqueado podem configurar crime de desobediência e falsidade ideológica.