Brasília, 5 de agosto de 2025 — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta terça-feira que o Brasil pode ir além nas políticas sociais e declarou que, diante dos desafios do país, pretende ser “mais esquerdista e mais socialista”. A fala ocorreu durante agenda oficial no Palácio do Planalto, em um discurso em que ele também celebrou a saída do país do Mapa da Fome, anunciada pela ONU em julho, e rebateu críticas ao uso de dívida pública como ferramenta de combate à pobreza.
“Cada vez mais vou ficar mais esquerdista, mais socialista, e vou ficar achando que a gente pode mais”, disse Lula, ao defender que o Estado brasileiro precisa assumir um papel ativo para garantir direitos básicos à população.
Políticas públicas, dívida social e combate à fome
Durante o discurso, Lula lembrou da própria juventude marcada pela fome e afirmou que não aceitará críticas ao endividamento do Estado em nome da população vulnerável.
“A crítica que fazem é porque a gente faz dívida para cuidar do povo. Pois eu farei quantas forem necessárias”, declarou.
O presidente celebrou a retirada do Brasil do Mapa da Fome, destacando o papel das políticas públicas de transferência de renda e inclusão alimentar. Para ele, a conquista é resultado direto de investimentos sociais que enfrentam resistência no debate econômico convencional.
“Podemos melhorar muito a situação do país. A gente pode fazer muito mais coisa do que está fazendo. Esse é o desafio”, completou.
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Lula diz que lobby contra Pix motivaria tensão com os EUA
Ainda nesta terça-feira, Lula participou da 5ª reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), onde defendeu o Pix como infraestrutura pública de referência mundial. Segundo ele, o sucesso do sistema brasileiro incomoda interesses financeiros internacionais e seria uma das causas da tensão com os Estados Unidos.
“Se o Pix tomar conta do mundo, os cartões de crédito vão desaparecer. É isso que está por trás dessa loucura contra o Brasil”, disse, ao comentar o tarifaço de 50% imposto pelo governo Trump sobre produtos brasileiros.
Lula minimizou o impacto comercial das tarifas, classificando-as como problema resolvível, ao contrário da fome. Ele também ironizou o presidente norte-americano:
“Gostaria que o presidente Trump fizesse uma experiência com o Pix para ele pagar uma conta”, afirmou.
Para Lula, o Brasil não pode ser punido por desenvolver soluções inovadoras fora do controle de grandes conglomerados financeiros.
“Nós não podemos ser penalizados por desenvolver um sistema gratuito como o Pix”, concluiu.
Convite a Trump para a COP30 e tentativa de distensão
Apesar das críticas indiretas ao governo norte-americano, o presidente brasileiro reforçou a disposição ao diálogo. Ele afirmou que pretende convidar Trump para a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, em 2025.
“Quero saber o que ele pensa da questão climática”, disse Lula, evitando embates diretos com o líder republicano.
O gesto busca sinalizar disposição diplomática em meio a um cenário internacional marcado por disputas comerciais e tensões ideológicas entre os dois países.
O que está em jogo
Por que Lula voltou a defender a dívida pública?
O presidente considera que o combate à fome e à miséria justifica a ampliação de investimentos sociais, mesmo com aumento da dívida pública. Ele avalia que essa é uma obrigação do Estado democrático.
Qual é a crítica de Lula ao lobby financeiro?
Segundo o presidente, o sistema Pix contraria interesses de grandes operadoras de cartão e isso explicaria, em parte, a resistência internacional ao modelo brasileiro.
Como o governo vê as tarifas dos EUA?
Lula minimizou o impacto das tarifas de 50% impostas por Trump, classificando-as como problema pontual e político, que pode ser superado por meio da diplomacia.
Qual a importância da retirada do Brasil do Mapa da Fome?
O anúncio feito pela ONU no final de julho é considerado um marco para o governo e fortalece a agenda social como prioridade nacional.
Trump irá à COP30?
Ainda não há confirmação oficial, mas Lula sinalizou que irá convidá-lo pessoalmente, numa tentativa de estabelecer diálogo em torno da agenda climática.
Projeções e embates futuros
A defesa de gastos sociais financiados por dívida pública recoloca o governo no centro do debate econômico nacional e internacional. A crítica ao lobby financeiro, aliada à exaltação do Pix como símbolo de soberania tecnológica, amplia a tensão com Washington, mas também projeta o Brasil como modelo alternativo ao neoliberalismo.
Com a COP30 se aproximando e o cenário eleitoral norte-americano em disputa, Lula aposta na diplomacia e na economia social para reposicionar o país no mundo. A oposição, por sua vez, deve intensificar ataques à estratégia fiscal do governo — um embate que definirá o tom do debate político nos próximos meses.