Brasília — 7 de agosto de 2025 — O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou nesta quinta-feira que pode pautar o projeto de anistia aos golpistas de 8 de janeiro de 2023, caso haja apoio da maioria dos líderes partidários. A fala ocorre um dia após o motim bolsonarista que paralisou o funcionamento do Congresso Nacional e intensificou a pressão da extrema direita pela votação da proposta.
Durante entrevista aos jornalistas Igor Gadelha e Gustavo Zucchi, do portal Metrópoles, Motta afirmou que a presidência da Casa deve respeitar a vontade da maioria, ainda que o tema seja polêmico. “Se houver ambiente político e maioria, cabe ao presidente respeitar essa vontade”, disse o deputado.
O motim e a pressão pela anistia
Na quarta-feira (6), deputados ligados ao PL e outros partidos de extrema direita ocuparam a Mesa Diretora da Câmara e impediram os trabalhos legislativos. A ação buscava forçar a inclusão da anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 2023 na pauta do plenário. Entre os manifestantes, estava Marcel van Hattem (Novo-RS), citado por Motta como um dos que dificultaram a retomada das atividades.
A crise levou à suspensão dos trabalhos tanto na Câmara quanto no Senado Federal, e reacendeu o debate sobre a conivência de parte da bancada bolsonarista com atos que desrespeitam o regimento interno e a ordem democrática.
“Sem imposição e sem chantagem”, diz Motta
Apesar de ter classificado o episódio como “triste” e “antiregimental”, Hugo Motta evitou se comprometer contra a proposta de anistia. Segundo ele, cabe ao colégio de líderes deliberar sobre a viabilidade de levar o texto ao plenário. “A democracia exige que todas as pautas sejam tratadas com transparência, sem imposição e sem chantagem”, declarou.
Questionado sobre possíveis negociações para encerrar o protesto da véspera, Motta negou ter feito qualquer acordo, mas não descartou que a sinalização de pauta tenha influenciado o recuo dos parlamentares bolsonaristas.
Punições em avaliação
O presidente da Câmara também confirmou que a Mesa Diretora avalia punições a parlamentares que “se excederam” durante o motim. Estão em análise medidas contra aqueles que ocuparam a cadeira da presidência e impediram fisicamente a condução dos trabalhos legislativos.
A crise gerou repercussão negativa nos bastidores da política e acendeu um alerta sobre a crescente pressão da extrema direita por pautas que confrontam decisões do Judiciário e tentam reescrever o impacto dos ataques às instituições democráticas ocorridos em janeiro de 2023.
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Entenda o caso
O que motivou o motim bolsonarista?
Deputados da extrema direita exigiram a votação da anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Para pressionar, ocuparam fisicamente a Mesa Diretora da Câmara e paralisaram os trabalhos.
Quem são os principais envolvidos?
Parlamentares do PL e de partidos aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro lideraram a ação. Marcel van Hattem (Novo-RS) foi citado por Motta como um dos mais ativos na obstrução.
A anistia pode ser votada?
Sim. O presidente da Câmara sinalizou que poderá pautar o projeto caso o colégio de líderes aprove. Ainda não há maioria consolidada.
Há possibilidade de punições?
Sim. A Mesa Diretora avalia medidas contra os deputados que participaram da ocupação e impediram o funcionamento do Legislativo.
Qual o contexto da proposta de anistia?
A proposta busca isentar de punição os envolvidos nos atos antidemocráticos de 2023. O Supremo Tribunal Federal (STF) já condenou dezenas de participantes dos ataques, considerados atos golpistas contra a ordem constitucional.
Impactos e desdobramentos
A fala de Hugo Motta reforça o avanço das pautas bolsonaristas dentro da Câmara dos Deputados, mesmo após os ataques de 2023. O uso de pressão institucional e chantagens políticas para influenciar a agenda legislativa evidencia os riscos de normalização do golpismo no ambiente parlamentar.
Nos bastidores, cresce a preocupação com possíveis articulações para aprovar projetos que contrariem decisões do Supremo Tribunal Federal, fragilizem o sistema de freios e contrapesos e reabilitem politicamente figuras condenadas por tentativa de golpe.
O debate sobre anistia, longe de ser encerrado, promete ser um dos temas mais polarizantes da segunda metade de 2025.