Brasília, 7 de agosto de 2025 — Enquanto os Estados Unidos, sob o governo de Donald Trump, impõem tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), preferiu criticar o próprio país. Em reunião com aliados da oposição, acusou o governo federal de ter “agredido um parceiro histórico”, repetindo o discurso submisso que tem marcado a ala bolsonarista nas relações com Washington.
Submissão em bloco
Diante de um ataque econômico direto, Tarcísio optou por culpar o Brasil. “O país tomou um caminho muito ruim”, disse o governador, sem mencionar que a iniciativa de agressão partiu da Casa Branca. Donald Trump autorizou o aumento das tarifas como forma de retaliação ao reposicionamento comercial do Brasil, que busca reduzir a dependência dos EUA e proteger sua indústria.
A fala foi feita nesta quinta-feira, durante reunião de governadores de oposição na residência de Ibaneis Rocha (MDB), no Distrito Federal. Lá estavam também Ronaldo Caiado (GO), Jorginho Mello (SC), Cláudio Castro (RJ), Mauro Mendes (MT), Romeu Zema (MG), Ratinho Jr. (PR) e Wilson Lima (AM).
Todos saíram em uníssono contra o governo Lula, mas nenhum deles sequer citou Trump ou o impacto direto das tarifas sobre o setor produtivo nacional.
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Falta coragem ou interesse?
A ausência de qualquer crítica à política externa agressiva dos Estados Unidos não é casual. Representa uma escolha política clara: em vez de defender o país, a ala bolsonarista prefere repetir a lógica de dependência que historicamente colocou o Brasil de joelhos diante de interesses estrangeiros.
Tarcísio classificou a atual condução diplomática como uma “marcha da insensatez” — mas seu diagnóstico inverte os fatos. Ignorou as tentativas do governo brasileiro de negociar e diversificar parcerias internacionais. Ignorou também que a ofensiva partiu da maior potência do planeta, e não do Planalto.
Para o governador, a ausência de “datas, prazos e ações concretas” seria a verdadeira causa do conflito, como se a simples organização cronológica pudesse deter o tarifaço trumpista.
Entenda o caso
O que os EUA fizeram?
O governo Trump impôs tarifas de 50% sobre produtos agrícolas e industriais brasileiros, alegando “ameaças à segurança nacional” – um argumento sem respaldo técnico e claramente protecionista.
Qual foi a resposta do Brasil?
O governo Lula iniciou tratativas diplomáticas e apresentou denúncia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Também estuda retaliações proporcionais.
O que motiva essa ofensiva de Trump?
Especialistas apontam motivações eleitorais e geopolíticas. Trump busca reforçar sua base industrial e punir países que não seguem sua agenda comercial subordinada.
Por que Tarcísio isenta os EUA?
A postura reflete a linha de fidelidade ideológica da oposição bolsonarista, que vê os Estados Unidos como referência absoluta — mesmo quando atacam o Brasil.
Quem se beneficia desse discurso?
Empresas norte-americanas ganham mercado; a oposição interna ganha pauta contra o governo federal. Quem perde é o setor produtivo nacional.
Alinhamento automático
A reunião dos governadores bolsonaristas evidenciou um projeto político que normaliza a submissão internacional em nome de conveniências ideológicas. Nenhum dos presentes demonstrou qualquer disposição para defender a soberania nacional.
Para além do gesto simbólico — como o uso do boné “MAGA” por Tarcísio — o que se vê é uma tentativa ativa de legitimar ataques estrangeiros ao país. Ao silenciar diante do protecionismo hostil dos Estados Unidos, os aliados de Bolsonaro endossam a lógica de dependência que marcaram os momentos mais vergonhosos da política externa brasileira.
Palanque contra o Brasil
O discurso de Tarcísio de Freitas ecoa a cartilha de sempre: atacar o governo Lula mesmo quando a crise vem de fora. Reforça a retórica de que é preferível se curvar a Trump do que sustentar um projeto autônomo de país.
Enquanto a elite bolsonarista repete chavões de obediência, o Brasil enfrenta sozinho a fúria tarifária de Washington. O problema não está na reação do governo federal — está no silêncio cúmplice de quem deveria defendê-lo.