Memória Viva

UERJ recebe mostra argentina sobre refúgio na ditadura chilena

Exposição gratuita resgata histórias de perseguição e solidariedade, com programação cultural até 30 de setembro

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
Parte da exposição “Memórias Encontradas: entre a solidariedade e a perseguição”

Rio de Janeiro – A Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) abre dia 14 de agosto a exposição argentina “Memórias Encontradas: entre a solidariedade e a perseguição”, que revela a trajetória de homens e mulheres que buscaram abrigo na Embaixada da Argentina em Santiago durante o golpe militar de 11 de setembro de 1973 contra Salvador Allende. A mostra reúne painéis textuais e fotográficos, instalações artísticas, filmes, debates e cursos, com entrada gratuita até 30 de setembro.


Ditadura, refúgio e perseguição no Cone Sul

A curadoria é da Comissão Provincial pela Memória (CPM) da Argentina, presidida pelo Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel e pela socióloga Dora Barrancos. A iniciativa parte de arquivos da Direção de Inteligência da Polícia da Província de Buenos Aires (DIPPBA), que registrou e fotografou os latino-americanos asilados após o golpe chileno. Entre os retratados, estão brasileiros como Daniel José de Carvalho e José Lavecchia, mortos no Massacre de Medianeira (1974) e ainda desaparecidos.

A mostra, sediada no mezanino da Coordenadoria de Arte e Oficinas de Criação (Coart), é fruto de parceria entre a Coart, a Comissão da Verdade e Memória, o Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), o Cidades – Núcleo de Pesquisa Urbana e o Núcleo Fala-se, todos da UERJ.


Arte contra o esquecimento

Entre as peças, está a instalação da artista plástica Fulvia Molina, composta por 12 painéis acrílicos e vinil transparente com imagens de todos os brasileiros mortos e desaparecidos pela ditadura. O trabalho sobrepõe memórias individuais e coletivas, expondo as “camadas de dor” que ainda ecoam no presente.

Também integram a mostra dois painéis têxteis bordados por uma rede nacional de coletivos ativistas — como BordaLuta, Linhas do Rio e Linhas de Sampa — com os nomes dos 434 mortos e desaparecidos políticos no Brasil. Um deles traz, em vermelho, o grito que uniu gerações contra o autoritarismo: Nunca Mais.


Programação de resistência

A abertura, às 16h, inclui coquetel no espaço da Reitoria e mesa-redonda no Auditório 11 com Sandra Raggio e Roberto Cipriano, da CPM, além de Ana Soffiantini, sobrevivente da Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA), centro clandestino de detenção e tortura em Buenos Aires.

O Auditório Cartola receberá filmes, debates, rodas de bordado e o curso de extensão “Argentina: Direitos Humanos e Políticas de Memória Face à Ascensão da Extrema-Direita”. Entre os títulos exibidos estão Operação Condor, Repare Bem, Fico te devendo uma carta sobre o Brasil e Auto de Resistência. A programação segue até o encerramento, em 30 de setembro.


Memória latino-americana sob ataque

A exposição já passou por Argentina, Uruguai, Chile e diversas cidades brasileiras, fortalecendo redes de memória e justiça em meio à ascensão da extrema-direita no continente. A década de 1970, marcada por ditaduras no Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e Paraguai, também testemunhou articulações de solidariedade internacional, que salvaram vidas e desafiaram a repressão organizada pela Operação Condor.

O resgate dessas histórias é mais que ato cultural: é posicionamento político contra o revisionismo histórico e a tentativa de relativizar crimes de Estado.


Programação

  • Quinta-feira, 14 de agosto
  • 16h – Espaço da Reitoria da UERJ
  • Coquetel de Abertura da exposição
  • Visita guiada
  • Mesa-redonda (Auditório 11 – 1º andar) com Sandra Raggio, Roberto Cipriano (CPM) e Ana Soffiantini (ESMA)
  • Sexta-feira, 15 de agosto
  • 9h30 – Auditório Cartola
  • Minicurso: Argentina: Direitos Humanos e Políticas de Memória Face à Ascensão da Extrema-Direita
  • Terça-feira, 19 de agosto
  • 16h – Auditório Cartola
  • Filme: 15 Filhos, de Marta Nehring e Maria Oliveira
  • Lançamento do livro Crianças e Exílio, com presença dos autores
  • Quinta-feira, 28 de agosto
  • 14h – Auditório Cartola
  • Filme: Operação Condor, de Cleonildo Cruz
  • Mesa-redonda com o diretor
  • Quinta-feira, 4 de setembro
  • 17h – Auditório Cartola
  • Filme: Cadê Heleny, de Esther Vital
  • Roda de bordado no espaço da exposição com o coletivo Linhas do Rio
  • Terça-feira, 9 de setembro
  • 16h – Auditório Cartola
  • Filme: Repare Bem, de Maria de Medeiros
  • Mesa-redonda com a Comissão da Verdade e Memória da UERJ
  • Terça-feira, 16 de setembro
  • 16h – Auditório Cartola
  • Filme: Fico te devendo uma carta sobre o Brasil, de Carol Benjamin
  • Mesa-redonda com o coletivo Filhos e Netos por Verdade, Justiça e Reparação
  • Terça-feira, 23 de setembro
  • 16h – Auditório Cartola
  • Filme: Terra dos Índios, de Zelito Viana
  • Mesa-redonda: Povos Originários – Memória, Verdade, Justiça e Reparação
  • Terça-feira, 30 de setembro
  • 16h – Auditório Cartola
  • Filme: Auto de Resistência, de Natasha Neri
  • Mesa-redonda: A violência de Estado na democracia
  • Encerramento da exposição
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.