O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) resolveu, mais uma vez, usar a caneta da defesa para tentar escapar da realidade: nesta sexta-feira (22), os advogados alegaram que não há “descumprimento de nenhuma cautelar” e que os indiciamentos feitos pela Polícia Federal seriam recheados de “vazios de indícios”.
“Para além da ausência de fatos novos ou contemporâneos, é certo que não há qualquer notícia de descumprimento de nenhuma das cautelares já impostas neste último um ano e meio”, afirmaram os defensores.
Tudo isso ocorre enquanto a PF coleta provas de que Bolsonaro ignorou restrições, manteve contatos com aliados e até planejou uma escapadinha para a Argentina, segundo documentos encontrados no celular do ex-presidente.
O tal rascunho de pedido de asilo político, um arquivo de 33 páginas destinado a Javier Milei, presidente argentino, traz trechos dramáticos:
“Eu, Jair Messias Bolsonaro, solicito a vossa excelência asilo político na República da Argentina, em regime de urgência, por eu me encontrar na situação de perseguido político no Brasil […] estando na iminência de ter minha prisão decretada, de forma injusta, ilegal, arbitrária e inconstitucional […]”
A defesa, com toda sutileza, respondeu que seria apenas uma “sugestão” recebida em fevereiro de 2024 e depois descartada. Traduzindo: era só um rascunho, nada sério… como se fosse a lista de compras de Natal.
Enquanto isso, a PF identificou que Bolsonaro e o filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP) articularam estratégias para pressionar ministros do STF e outros parlamentares, numa tentativa explícita de interferir no julgamento do golpe de 2022. Mensagens de áudio mostram a coordenação entre pai, filho e o pastor Silas Malafaia para intimidar autoridades e favorecer interesses próprios.
Eduardo, nos Estados Unidos, também se manifestou nas redes sociais, reclamando que a PF estaria “tratando como crime o vazamento de conversas privadas, absolutamente normais, entre pai e filho e seus aliados”.
O julgamento do caso começa em 2 de setembro no STF. Jair Bolsonaro e outros sete réus respondem por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.
Enquanto a defesa insiste em classificar rascunhos de fuga e mensagens de pressão como “indícios vazios”, o resto do país assiste ao circo judicial em que um ex-presidente parece não conseguir diferenciar entre rascunho e realidade.