Luto

Luis Fernando Verissimo morre aos 88 anos em Porto Alegre

Escritor e cronista enfrentava complicações de saúde desde 2021 e deixa legado único na literatura brasileira

JR Vital
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JR Vital
JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por...
© Alice Vergueiro/Abraji

Morreu, aos 88 anos, o escritor e cronista Luis Fernando Verissimo, um dos nomes mais populares da literatura brasileira. Internado há três semanas na UTI do Hospital Moinhos de Vento com princípio de pneumonia, o autor não resistiu às complicações decorrentes de um quadro de saúde fragilizado desde o acidente vascular cerebral (AVC) que sofreu em 2021. Desde então, sua comunicação estava limitada a poucas palavras em inglês.

Além do AVC, Verissimo convivia com doença de Parkinson, problemas cardíacos e, em 2020, foi submetido a cirurgia para a retirada de um câncer ósseo na mandíbula. Mesmo debilitado, manteve o hábito de ler jornais diariamente e continuou fiel ao Internacional, clube do coração.

Um cronista que virou referência

Com mais de 80 livros publicados e 5,6 milhões de exemplares vendidos, Luis Fernando Verissimo consolidou-se como o maior cronista brasileiro das últimas décadas. Criou personagens que se tornaram ícones da cultura nacional, como o psicanalista Analista de Bagé, a irônica Velhinha de Taubaté, o detetive Ed Mort e a Família Brasil, sátira ácida da vida política e social.

Seu estilo combinava humor, leveza e crítica social, transitando entre crônicas, romances, cartuns, roteiros de TV, peças teatrais e até composições musicais. Para gerações de leitores, Verissimo representou a escrita acessível e inteligente, sempre com olhar atento aos absurdos da vida cotidiana e da política.

Trajetória marcada por música e jornalismo

Nascido em Porto Alegre, em 26 de setembro de 1936, filho do escritor Érico Verissimo e de Mafalda Volpe, cresceu em ambiente literário, mas sua primeira paixão foi a música. Adolescente, viveu nos Estados Unidos, estudou saxofone e tornou-se amante do jazz, chegando a se apresentar em bailes no Rio Grande do Sul com o grupo Renato e seu Sexteto.

Na volta ao Brasil, iniciou a carreira jornalística nos anos 1960 como revisor e redator. Em 1969, passou a assinar coluna no jornal Zero Hora, expandindo logo depois para veículos nacionais como O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.

Seu livro de estreia, “O Popular” (1973), abriu caminho para uma vasta produção de coletâneas de crônicas e contos. Nos anos 1980, alcançou projeção nacional com “O Analista de Bagé”, sucesso editorial imediato. Pouco depois, a Velhinha de Taubaté tornou-se símbolo irônico da credulidade popular diante dos governos militares e civis.

Popularidade além das páginas

Em 1994, a coletânea “Comédias da Vida Privada” virou série de TV, adaptada por Jorge Furtado e dirigida por Guel Arraes, ampliando ainda mais sua popularidade. Nos anos seguintes, firmou-se também como romancista, com títulos como “Gula – O Clube dos Anjos” (1998) e “Borges e os Orangotangos Eternos” (2000).

O jazz nunca deixou de acompanhá-lo. Verissimo integrou o grupo Jazz 6, gravou discos e imprimiu na escrita o ritmo e a musicalidade que o fascinavam desde a juventude.

Reconhecimento e legado

Premiado e homenageado no Brasil e no exterior, Verissimo recebeu o Prêmio Juca Pato em 1997, foi capa da revista Veja em 2003 como “o escritor que mais vende no Brasil” e teve obras destacadas pela New York Public Library. Na França, conquistou o Prêmio Deux Océans no Festival de Biarritz.

Casado por 61 anos com Lúcia Helena Massa, deixa três filhos – Fernanda, Mariana e Pedro. A família vivia em Porto Alegre, na mesma casa do bairro Petrópolis onde moraram seus pais.

A morte de Luis Fernando Verissimo encerra uma era da crônica brasileira. Sua obra, que une humor, crítica social e lirismo, permanece como referência incontornável e seguirá iluminando leitores e leitoras muito além do seu tempo.

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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.