A cúpula da federação União Progressista — formada por União Brasil e Progressistas (PP) — decidiu abandonar de vez o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e declarar apoio explícito a um projeto de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
A resolução inclui a saída dos ministros André Fufuca (Esporte) e Celso Sabino (Turismo), ambos deputados federais licenciados de suas legendas.
O anúncio ocorre no mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento de Bolsonaro, acusado de envolvimento direto na trama golpista de 8 de janeiro de 2023. Segundo fontes próximas às negociações, a proposta de anistia prevê perdão amplo aos participantes dos ataques, mas mantém a inelegibilidade do ex-presidente.
Fissuras na Esplanada
Apesar da determinação do desembarque, apadrinhados das duas siglas devem permanecer no governo. O União Brasil mantém Waldez Góes (Desenvolvimento Regional) e Frederico de Siqueira Filho (Comunicações), ambos indicados pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), aliado estratégico do Planalto. O parlamentar também foi responsável pela nomeação de Lucas Felipe de Oliveira para a presidência da Codevasf.
O PP, por sua vez, continuará controlando a Caixa Econômica Federal, presidida por Carlos Vieira, indicado pelo ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Essas permanências expõem a contradição da ruptura: as cúpulas anunciam afastamento, mas preservam espaços de poder.
Lula cobra fidelidade e amplia tensão
A decisão da federação foi precipitada por falas duras de Lula na semana passada, durante reunião ministerial. O presidente questionou a lealdade dos ministros ligados ao Centrão e sugeriu que deixassem o governo caso não se sentissem à vontade para defender sua gestão.
No mesmo encontro, Lula ironizou a relação com o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, dizendo não gostar do dirigente e afirmando que a antipatia era mútua. Sobre Ciro Nogueira (PP-PI), líder da sigla e ex-ministro da Casa Civil de Bolsonaro, o petista lembrou que ele só sobreviveu politicamente graças à estrutura do bolsonarismo.
As declarações aumentaram o mal-estar interno e levaram figuras como ACM Neto (União Brasil-BA) a pressionar pela saída imediata, com a decisão sendo confirmada em reunião executiva marcada para esta semana.
Alinhamento eleitoral e disputa de 2026
O rompimento também se insere na movimentação eleitoral para 2026. André Fufuca (Maranhão) e Celso Sabino (Pará) já articulam candidaturas ao Senado e esperavam contar com apoio do governo federal, algo que se tornou improvável após a ruptura.
Enquanto isso, a federação direciona esforços para fortalecer a candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) à Presidência, consolidando um bloco conservador com foco em se contrapor ao PT.
Anistia como moeda política
O apoio à anistia para os envolvidos no 8 de janeiro expõe o alinhamento da federação com o bolsonarismo e reforça a tentativa de transformar o Congresso em escudo para Bolsonaro. Para críticos da medida, trata-se de um ataque direto ao Estado democrático de direito e à autoridade do STF, que já consolidou jurisprudência sobre a impossibilidade de anistiar crimes contra a ordem constitucional.
O desembarque do Centrão do governo e a adesão à bandeira da anistia confirmam o caráter oportunista da aliança, revelando a tentativa de se reposicionar como polo conservador no embate político de 2026. O gesto escancara a convergência entre fisiologismo e golpismo, com impactos diretos na governabilidade e na disputa pelo futuro da democracia brasileira.