Lideranças do Centrão passaram a admitir que o projeto de anistia pode ser iniciado no Senado, sob a condução do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), em interlocução com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesse desenho, o texto não contemplaria perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reforçando a avaliação de que ele dificilmente será beneficiado.
Aliados de Alcolumbre afirmam que o senador trabalha em uma proposta restrita, que não prevê anistia ampla, mas apenas redução das penas para crimes contra a democracia. Essa modelagem poderia impactar um eventual julgamento de Bolsonaro, diminuindo a punição, mas sem afastar a condenação.
Na Câmara dos Deputados, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) é visto como fragilizado. Integrantes do bloco afirmam que a condução do debate já está sob domínio do Senado. “O dono da pauta do Congresso hoje é o Davi”, disse uma liderança do Centrão, destacando que a proposta tem respaldo do STF e do governo.
Nos bastidores, parlamentares reconhecem que não há ambiente para insistir em anistia ampla. “Todos sabem que o Supremo vai considerar inconstitucional uma anistia geral, irrestrita e retroativa”, avaliou um dirigente. O movimento do Senado, embora alivie a pressão imediata sobre Motta, reduz o protagonismo da Câmara, onde a discussão teve início.
Oposição mantém exigência de perdão integral
A oposição rejeita qualquer alternativa que não contemple o ex-presidente. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), apresentou nesta quinta-feira (4) um rascunho de projeto que abrange todos aqueles “que tenham sido, estejam sendo ou venham a ser investigados, processados ou condenados” por ataques às instituições e ao processo eleitoral.
O texto estabelece 2019 como marco temporal, tomando como referência o inquérito das fake news. A medida poderia alcançar Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o ex-deputado Daniel Silveira.
O esboço também tenta reverter a inelegibilidade de Bolsonaro, em vigor até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral. A proposta inclui “crimes políticos ou conexos, eleitorais e aqueles que tenham levado à suspensão de direitos sociais e políticos”, o que abriria caminho para sua candidatura em 2026.
Apesar da pressão, parte do próprio Centrão demonstra resistência em devolver protagonismo ao ex-presidente. Lideranças de partidos como Republicanos e União-PP avaliam que o nome com maior viabilidade eleitoral para 2026 é o de Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo.
Reconfiguração do tabuleiro político
A disputa em torno da anistia expõe tensões no Congresso e entre os poderes. A movimentação do Senado busca equilibrar a pressão social e institucional por responsabilização, sem desconsiderar os interesses políticos que atravessam o Centrão. O resultado tende a influenciar diretamente a corrida presidencial de 2026 e a relação entre Congresso, STF e Executivo.