O Supremo Tribunal Federal (STF) avalia que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), precisa se retratar após as declarações feitas durante a manifestação de 7 de setembro, na avenida Paulista. Até esta segunda-feira (8), o governador não havia feito contato direto com ministros, limitando-se a enviar recados por interlocutores próximos.
No palanque, Tarcísio direcionou críticas duras ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, relator das ações contra envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro. Chamou o magistrado de “tirano” e defendeu uma anistia “ampla e irrestrita” que incluísse até mesmo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ao ouvir o coro de “fora, Moraes” entre apoiadores, reforçou o ataque, alegando que o país não suportaria mais sua “tirania”.
As falas repercutiram imediatamente. O ministro Gilmar Mendes declarou em rede social que crimes contra o Estado democrático não podem ser objeto de anistia. Já o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, destacou que, ao contrário da ditadura militar, os julgamentos atuais são públicos e transparentes.
Radicais e cálculo político
Nos bastidores, integrantes do STF classificaram a postura de Tarcísio como “desvario”, avaliando que o discurso foi calculado para consolidar apoio do eleitorado bolsonarista com vistas às eleições de 2026. Para ministros, a retórica aproximou o governador de figuras como o pastor Silas Malafaia, o que teria fragilizado sua interlocução com a Corte.
Um dos magistrados disse que a acusação de tirania ultrapassou limites institucionais, destoando do papel de um governador de estado. Até então, mesmo sob críticas de parlamentares como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Tarcísio mantinha canais de diálogo no Supremo.
Repercussão entre aliados
Aliados próximos afirmam que Tarcísio se mostrou incomodado com a reação negativa, mas defendem que o aumento de tom era esperado diante do julgamento de Bolsonaro. Ainda assim, reconheceram que o ataque foi além do necessário. A leitura predominante é que o governador buscou marcar posição política diante de sua base, mesmo correndo riscos institucionais.
Debate sobre anistia
As declarações reacenderam o debate sobre os projetos de anistia em tramitação no Congresso. Uma ala minoritária do STF considera legítima a discussão parlamentar, mas a maioria sustenta que não há espaço para perdoar crimes ligados aos ataques de 8 de janeiro.
Nos próximos dias, aliados acreditam que Tarcísio tentará reaproximar-se do Supremo em momento mais conveniente, evitando a imagem de recuo imediato.