O pastor Silas Malafaia, líder da igreja evangélica Advec (Assembleia de Deus Vitória em Cristo), admitiu que parte dos cadernos apreendidos pela Polícia Federal (PF) em 20 de agosto era utilizada na preparação de vídeos relacionados à atuação política pró-Jair Bolsonaro (PL). Até então, o religioso afirmava que os cadernos serviam exclusivamente para estudos bíblicos e organização de pregações.
A mudança de narrativa ocorreu durante discurso na manifestação bolsonarista na Avenida Paulista, em 7 de setembro, quando Malafaia relatou detalhes da operação conduzida sob ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“O delegado folheou folha por folha. Havia um caderno que eu uso para escrever meus discursos e os vídeos que gravo. Ele disse que iria segurar este caderno”, disse o pastor, descrevendo a ação da PF.
Investigação da PF
O relatório da PF aponta que Malafaia teria colaborado com estratégias de pressão política contra o STF, em conjunto com Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Segundo os investigadores, as redes sociais do pastor foram utilizadas para propagar atos de coação contra ministros da Corte, incluindo Alexandre de Moraes, que Malafaia descreve repetidamente como “ditador da toga”.
O documento indica que o religioso e aliados teriam buscado instrumentalizar sua influência pública para criar pressão sobre decisões do STF, incluindo lobby junto a autoridades estrangeiras com potencial impacto em sanções e tarifas comerciais.
Papel das redes sociais
As plataformas digitais de Malafaia funcionam como canal de ataques frequentes à Corte. A PF destaca que, desde o final do governo Bolsonaro, o pastor publicou mais de 50 vídeos com críticas diretas a ministros, em especial a Moraes, reforçando o vínculo com o chamado núcleo bolsonarista que atuou para reverter resultados eleitorais de 2022.
Contexto político
A revelação reforça o panorama de ações coordenadas entre figuras políticas e líderes religiosos para pressionar o STF. A investigação integra o inquérito sobre tentativa de obstrução de julgamento de Bolsonaro, evidenciando o uso de influência religiosa e digital em estratégias políticas de caráter antidemocrático.