O Centrão iniciou uma movimentação silenciosa para enterrar a proposta de anistia ampla, que poderia beneficiar Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, e substituí-la pela chamada PEC da Blindagem. As tratativas ocorreram no fim de semana e se intensificaram nesta segunda-feira (15), com participação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O movimento busca evitar um confronto direto com a Corte após a condenação histórica do ex-presidente e sinaliza que a anistia ampla não deve prosperar neste momento.
Hugo Motta lidera negociações com STF e Lula
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), assumiu o papel de interlocutor e se reuniu com ministros como Alexandre de Moraes, além de manter encontro com Lula. A articulação envolve alinhar parte do Centrão à base governista contra a votação de urgência da anistia defendida pelo PL.
O projeto apresentado pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante, previa o perdão não apenas a condenados de menor expressão, mas também ao próprio Bolsonaro. Caso o acordo prospere, a proposta não retornará ao plenário, afastando o risco de aprovação de uma anistia considerada afrontosa ao STF.
Anistia restrita em debate
Entre parlamentares do Centrão, ganha força a tese de que uma anistia neste momento poderia enfraquecer a legitimidade das condenações e criar desgaste político para a Câmara. Por isso, discutem a aprovação de um texto mais restrito, reduzindo penas de réus do 8 de janeiro sem incluir os mentores da tentativa de golpe.
Essa solução é vista como um gesto de apaziguamento, mas ainda enfrenta resistência de setores bolsonaristas que exigem a absolvição do ex-presidente.
PEC da Blindagem volta à mesa
Em troca, a PEC da Blindagem pode avançar com menos atrito com o STF e o Planalto. A versão atual do texto abandona a proposta mais radical de suspender decisões da Suprema Corte e se concentra em exigir autorização do Congresso para abertura de processos contra parlamentares.
Segundo interlocutores, Lula sinalizou a Hugo Motta que não interferirá, já que mudanças constitucionais não passam por sanção presidencial. A decisão final, portanto, ficará nas mãos do Congresso.
Implicações políticas
A manobra reflete a tentativa do Centrão de controlar danos após a condenação de Bolsonaro. Ao enterrar a anistia ampla e priorizar a PEC da Blindagem, o bloco tenta proteger seus interesses sem desafiar diretamente o STF.
Para setores progressistas, no entanto, a estratégia revela a insistência da elite política em blindar privilégios enquanto sacrifica a defesa plena da democracia.